Doença linfoproliferativa pós transplante tardia no sistema nervoso central - caso clínico
A maioria dos casos de doença linfoproliferativa pós transplante (DLPT) ocorre no primeiro ano. Há maior envolvimento do sistema nervoso central (SNC) nos transplantados que na população geral.
Masculino, caucasiano, 77 anos, transplante renal há 14 anos, dador cadáver, 4 compatibilidades HLA, imunossupressão de manutenção com ciclosporina, micofenolato e prednisolona (esquema com timoglobulina na indução), disfunção crónica de enxerto, carcinoma da próstata em remissão, arritmia sob anticoagulação oral e bloqueio atrioventricular sob pacemaker permanente, modelo incompatível com ressonância magnética (RM).
Internado por hematoma espontâneo da parede abdominal (INR elevado), com necessidade de transfusão. Após estabilização, instalação súbita de prostração e movimentos clónicos de versão oculocefálica para a direita. TC encefálica com contraste com hipodensidades frontal e parietal esquerdas.
Exames complementares destacaram carga viral sérica de CMV 14300 cópias e de EBV 328000 cópias. Sem massas ou adeno/organomegálias. Realizada biópsia da lesão frontal guiada por TC cujo resultado histológico foi DLPT polimórfica EBV positiva. O tratamento incluiu levetiracetam, dexametasona (com regressão parcial dos deficits neurológicos - hemiparesia braquial direita sequelar), valganciclovir com negativação da carga viral de CMV, suspensão de micofenolato e substituição de ciclosporina por sirolimus. WHO performance status 4, após medidas. Planeia-se tratamento com rituximab sistémico (4 administrações de 375 mg/m2) e intratecal.
Caso incomum de DLPT tardia confinada ao SNC. A impossibilidade realizar RM atrasou a realização de biópsia e o diagnóstico definitivo. Prognóstico reservado tendo em conta o performance status.
Doença linfoproliferativa pós-transplante
Infecção
Hospital Garcia de Orta - - Portugal
Joana Rego Silva, Ricardo André Macau, Pedro Cruz, Ana Mateus, Carlos Oliveira, Aura Ramos