Implicações da mudança na alocação de enxertos hepáticos, de cronológico para o critério MELD, na indicação ao transplante de fígado e na mortalidade em lista de espera
A modificação da alocação de enxertos hepáticos para seleção pelo critério de gravidade baseado no MELD ainda não foi devidamente analisada no Brasil, quanto à distribuição das indicações ao transplante (tx) e mortalidade entre os pacientes (pcts) inscritos.
Foram estudados, retrospectivamente, 899 pcts (medianas de idade 52,8 anos, IMC 25,2 e MELD 18) divididos nos períodos pré (n=320, 35,6%) e pós MELD (n=579, 64,4%) e em Grupos (G) 1 (n=480, 53,4%): cirrose etanólica, criptogênica e autoimune; G2 (n=80, 8,9%): doenças biliares; G3 (n=93, 10,3%): doenças metabólicas e outros; e G4 (n=246, 27,4%): cirroses pós-viral B e C. Pontuação especial (PE) foi atribuída a 19,5% dos pcts, de acordo com critérios da legislação.
A incidência de indicações ao tx foi diferente nas eras pré e pós MELD (p=0,049), aumentando no G3 (de 8,1% para 11,6%) e reduzindo no G4 (de 32,5% para 24,5%). 32,9 % dos inscritos faleceram antes do tx. A mortalidade em lista reduziu de 41,6% para 28,2% após o MELD (p<0,001). Para pacts sem PE, a redução foi de 41,4% para 27,8% (p=0,004) no G1 e de 50,0% para 26,9% (p=0,039) no G2; no G3 e G4 não houve alteração da mortalidade pré tx. Para pcts com PE, houve menor mortalidade pré tx no G1, (p=0,01, OR=3.308) e no G4, (p=0,001, OR=4,323); no G3 não houve diferença significativa e o G2 não apresentou pcts com PE. Pacts passaram a ser inscritos com MELD mais elevado (de 16 para 20; p<0,001) e a evolução até o tx ou óbito foi mais rápida (de 102 dias para 58 dias; p=0,028).
Com a introdução do MELD, houve redução da mortalidade em lista, inscrição de pcts mais graves e mortalidade muito menor entre pcts com PE. Pcts do G1 e pcts com PE foram os maiores beneficiados com a introdução do MELD. O impacto da PE, no entanto, varia nas diferentes listas de espera.
MELD
Fígado
Hospital das Clínicas da UFMG - Minas Gerais - Brasil
Caio Ribeiro Melki, Agnaldo Soares Lima