Dados do Trabalho

Título

O cenário da função tardia do enxerto renal no Brasil

Introdução

Não há dados robustos nacionais sobre a incidência, o impacto e os fatores de risco para função tardia do enxerto renal (FTE).

Material e Método

Coorte retrospectiva incluindo 3444 adultos submetidos a transplante renal (TxR) com doador falecido (DF) entre jan/14 e dez/15 em 18 centros brasileiros. Foram analisados os desfechos de 1 ano.

Resultados

Os receptores eram homens (63%), 48±13 anos, brancos (48%), que permaneceram 47±43 meses (mediana=34) em diálise. Os doadores eram adultos (43±15 anos), que faleceram por causa cerebrovascular (52%) e que tinham creatinina final (Crf) de 1,8±1,4 mg/dL. Eurocollins foi utilizado em 45% dos rins e 6% foram perfundidos em máquina de perfusão (MP). O tempo de isquemia fria (TIF) foi 22±7 horas. A incidência de FTE foi 56%, com duração de 11±19 dias (mediana=7). Os pacientes do grupo FTE apresentaram maior incidência de rejeição aguda (RA) (12,2% vs. 6,7%, p<0,001) e pior sobrevida do enxerto (93,6% vs. 96,4%, p<0,001). Os fatores de risco para FTE foram: IMC do receptor (OR 1,039, IC 95% 1,020-1,057), tempo em diálise (OR 1,007, IC 95% 1,005-1,009), idade do doador (OR 1,017, IC 95% 1,011-1,022), Crf (OR 1,410, IC 95% 1,319-1,507), preservação com Eurocollins (OR 1,272 IC 95% 1,083-1,495) e TIF (OR 1,060, IC 95% 1,047-1,072). Apenas o uso de MP foi protetor (OR 0,548, IC 95% 0,399-0,752).

Discussão e Conclusões

A incidência de FTE nesta coorte brasileira foi 2-3 vezes maior que a reportada por centros americanos e europeus. Dentre os fatores de risco modificáveis durante o processo de captação e transplante, destaca-se o uso de Eurocollins e o TIF como variáveis que favorecem a ocorrência de FTE e uso de MP como um fator protetor. O evento FTE foi associado a maior incidência de RA e pior sobrevida do enxerto.

Palavras Chave

transplante renal; função tardia do enxerto; Brasil