Dados do Trabalho

Título

Segurança na utilização de órgãos de dadores infectados na transplantação renal

Introdução

A disponibilidade de órgãos para transplantação continua a ser limitada perante o aumento de candidatos. Uma estratégia ainda controversa para ampliar o número de dadores é a utilização de órgãos de indivíduos infectados.

Material e Método

Estudo retrospectivo de doentes submetidos a transplante renal de dador cadáver na unidade do Hospital Garcia de Orta (Portugal) entre 2008 e 2019. Análise comparativa de resultados com a utilização de dador infectado e sem infecção. Considerou-se infecção a presença de bacteriemia documentada em hemoculturas ou infecção de órgão, com ou sem isolamento de agente em produto biológico.

Resultados

Realizaram-se 55 transplantes de dadores infectados de um total de 194 (28.4%). O local de infecção mais frequente foi o pulmão (n=30), seguido do trato urinário (n=13) e meninge (n=8). Verificada bacteriemia em 9 casos (16.36%). Nenhum dos agentes identificados era multirresistente. Todos os receptores receberam profilaxia antibiótica de acordo com o agente isolado ou com o antibiótico em curso no dador, durante 11.1±3.0 dias. Comparando os grupos dador infectado e não infectado, não se verificaram diferenças estatisticamente significativas nas características demográficas, frequência de trombose do enxerto (3.8 e 2.2%, p=0.558), tempo de internamento (17.8 e 19.2 dias, p=0.452), atraso de função do enxerto (46.7 e 40.7%, p=0.455), função renal (sCr 1.5 e 1.7 mg/dL, p=0.193) e sobrevida a 1 ano (100 e 99.3%, p=0.528). Os doentes que receberam órgãos de dadores infectados apresentaram menos complicações infecciosas (14.5 e 42.5%, p=0.001).

Discussão e Conclusões

A presença de infecção no dador não condiciona piores resultados. O transplante de rim de dador infectado pode ser realizado com segurança mediante instituição de antibioterapia profilática no receptor.

Palavras Chave

Dador, infecção, transplante, rim