Dados do Trabalho

Título

Motivos de recusa familiar para doação e características institucionais associadas, em UTIs participantes de um ensaio clínico randomizado

Introdução

No Brasil, 42% das entrevistas para doação de órgãos resultam em recusa, sendo a principal causa de não doação. Contudo, seus determinantes estão pouco esclarecidos. Nosso objetivo é avaliar taxa, motivos e características institucionais associadas à recusa para doação em UTIs com alta notificação de morte encefálica (ME).

Material e Método

Análise interina de dados prospectivos de entrevista familiar coletados no estudo DONORS, não relacionados à intervenção desse estudo randomizado que avalia a efetividade de um checklist para manejo de potenciais doadores em UTI. A taxa de recusas foi obtida sobre o número de entrevistas familiares realizadas. O entrevistador registrou os motivos de recusa. Analisamos associação entre recusa familiar e características institucionais, por teste X2 ou Exato de Fisher (significativo se p < 0,05).

Resultados

Avaliamos 828 entrevistas em 60 centros entre jun/17 e ago/18. Taxa de recusa foi de 35,6% (295). Os principais motivos foram: desejo em vida de não ser doador (38%), desejo do corpo intacto (16,3%) e tempo prolongado para liberar o corpo (13,2%). Outros motivos ou não definição perfizeram 32,5% dos casos. Houve diferença (p=0,003) regional na taxa de recusa: Norte (45,5%), Nordeste (47,3%), Centro-oeste (38,5%), Sudeste (31,9%) e Sul (31,4%). A recusa foi menor em centros transplantadores (29% vs. 38,9%; p=0,006).

Discussão e Conclusões

A taxa de recusa observada em centros com alto volume de ME reflete os altos índices nacionais e as baixas taxas históricas de doação no Norte e Nordeste. Desejo de não ser doador em vida e do corpo intacto, como principais motivos de recusa, reforçam a importância da capacitação para entrevista familiar nesses aspectos. Centros com cultura de transplante apresentaram menos recusas.

Palavras Chave

recusa familiar, doação de órgãos