TÍTULO

A cirurgia bariátrica pode causar hipogamaglobulinemia? Primeiro relato de caso

INTRODUÇÃO

A obesidade atinge cerca de 1,7 bilhões de pessoas no mundo. Pode associar-se à hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, dislipidemias, diabete mellitus (DM) e apneia obstrutiva do sono. A cirurgia bariátrica é considerada o método mais efetivo para perda de peso e manutenção desta perda, além de melhorar significativamente ou resolver parte das doenças crônicas. Por outro lado, as modificações anatômicas e absortivas provenientes da cirurgia podem gerar regurgitação crônica, hiperparatireoidismo, osteoporose, alterações renais e deficiência alimentar crônica. Não há relatos prévios de pacientes com hipogamaglobulinemia associada à cirurgia bariátrica. No relato, descrevemos uma paciente com hipogamaglobulinemia diagnosticada pós-cirurgia bariátrica, apresentando deficiências imunológicas celulares e humorais

RELATO DE CASO

Paciente do sexo feminino, submetida à cirurgia bariátrica do tipo bypass em Y de Roux, em 2006, quando começou a apresentar infecções de repetição e enfraquecimento dentário com presença de fraturas. As manifestações clínicas relatadas foram: sinusopatia levando a tosse persistente, sibilância, amigdalites de repetição e astenia. Foi encaminhada para avaliação imunológica e verificou-se: IgG=445 mg/dL (normal–672-1440 mg/dl), IgM=42 mg/dL (normal–57-285 mg/dl) e IgA=126 mg/dL (normal-59-396 mg/dl); células B=14/mm3 (normal-90-680/mm³) e células T CD3+=889/mm³ (normal–1000-3900/mm³), T CD4+=492/mm³ (normal-570–2700/mm³). A produção de anticorpos antipneumococo mostrou-se prejudicada após imunização vacinal (S4, S6B, S23F<0,5μg/dl (normal->1,3 ug/dl). Paciente relata que necessitou realizar duas extrações dentárias, devido às fraturas apresentadas. Iniciou-se o tratamento específico com infusão de Imunoglobulina Intravenosa (27,5 g/dose), mensalmente, atingindo melhora dos níveis séricos das imunoglobulinas e da contagem celular e melhora dos sintomas e quadros infecciosos apresentados anteriormente

DISCUSSÃO

A efetividade da cirurgia bariátrica é observada em relação à perda de peso e ao controle de doenças crônica. A técnica mais utilizada é a reconstrução do trânsito em bypass gástrico em Y de Roux, gerando redução da superfície absortiva intestinal e do volume gástrico. Assim, as alterações anatômicas do trato gastrointestinal podem gerar uma deficiência nutricional, afetando a absorção de proteínas, lipídeos, carboidratos, vitaminas. Por conseguinte, a intensa perda de peso (redução do tecido adiposo), juntamente com a deficiência nutricional, pode afetar a sinalização imune (tecido adiposo possui ação endócrina no sistema imune), podendo ser uma possível causa das infecções. Juntamente, a deficiência de vitamina D, afeta a absorção de cálcio, estimulando a reabsorção em ossos e dentes (enfraquecimento dentário). Não há descrição prévia na literatura sobre o desenvolvimento de hipogamaglobulinemia pós cirurgia bariátrica, sendo uma condição que merece atenção médica.

PALAVRAS CHAVE

Cirurgia bariátrica, hipogamaglobulinemia, imunoglobulina, tratamento

Área

CIRURGIA DA OBESIDADE