CONGRESSO PAULISTA DE CIRURGIA - 21º ASSEMBLÉIA CIRURGICA DO CBCSP

Dados do Trabalho


TÍTULO

FASCEITE NECROTIZANTE EM REGIAO GLUTEA POR INJEÇAO DE SILICONE INDUSTRIAL

INTRODUÇÃO

O silicone puro foi isolado em 1824, passando a ser utilizado com diversos fins industriais. O uso estético, por sua vez, passou a ser feito há cerca de 60 anos, objetivando o aumento e substituição de tecidos moles de diversos segmentos do corpo. No entanto, pelas diversas complicações relacionadas ao uso nesse tipo de procedimento, acabou proibido na maioria dos países.
Atualmente, seu uso se dá principalmente de maneira clandestina, sendo realizado, predominantemente, em dois grupos populacionais, os transexuais e os travestis. Estima-se que até 49% dos travestis e transexuais de São Paulo já realizaram aplicação de silicone industrial.
O silicone possui um alto potencial de penetração tecidual, dessa forma está relacionado a complicações locais e sistêmicas que podem ocorrer até 20 anos após a aplicação.
Porém, apesar do uso e das complicações serem frequentes, existem poucos relatos descrevendo a apresentação e evolução clínicas desses pacientes.

RELATO DE CASO

M.S.R., masculino, 28 anos, travesti, vem ao serviço relatando administração domiciliar de 4 litros de silicone industrial em glúteos há 7 dias. Evoluiu com processo álgico intenso, febre e saída de secreção purulenta de ambas as nádegas.
Apresentava-se em regular estado geral, febril e taquipneica. As regiões glúteas estavam intensamente hiperemiadas, edemaciadas, dolorosas e com diversos pontos de drenagem de secreção purulenta.
Após coleta de exames laboratoriais, a paciente passou pelo primeiro procedimento cirúrgico. Permaneceu internada por 23 dias, necessitando de mais 5 abordagens cirurgicas. Durante a internação, diagnosticou-se infecção por HIV, sendo iniciado tratamento que contribuiu com a melhora clínica e laboratorial da paciente.
Após melhora clínica, foi avaliada pela cirurgia plástica que, considerando a profissão e estado imunológico da paciente optou pela cicatrização por segunda intenção. As técnicas de enxertia e retalho, foram reservadas para caso de insucesso da abordagem conservadora, uma vez que comprometem a estética da região doadora.
O paciente recebeu alta e foi acompanhado semanalmente no ambulatório do serviço, evoluindo bem com fechamento da área em 4 semanas após a alta.

DISCUSSÃO

A abordagem terapêutica à pacientes que evoluem com complicações é delicada e, mesmo quando precocemente iniciada, não determina a ausência de complicações futuras. Além disso, a remoção completa do silicone, mesmo cirurgicamente é impossível.
Pela frequente necessidade de novas abordagens cirúrgicas os sítios desbridados não são fechados após o procedimento. A cobertura é realizada quando o leito esteja adequado e quando não se necessite de novos desbridamentos.
A autoenxertia é o método mais utilizado, mas independentemente da técnica, o tratamento deve avaliar fatores locais (irrigação sanguínea, infeção e edema) e sistêmicos (status cardiopulmonar e situação imunológica) de maneira que seja escolhida a técnica mais apropriada para o caso.

PALAVRAS CHAVE

Silicone Industrial; Complicações; Fasceíte

Área

PLÁSTICA

Instituições

Hospital Geral de Carapicuíba - São Paulo - Brasil

Autores

Ciro Franco Reis, Diego Barão da Silva, Lucas Antonio Pereira do Nascimento