CONGRESSO PAULISTA DE CIRURGIA - 21º ASSEMBLÉIA CIRURGICA DO CBCSP

Dados do Trabalho


TÍTULO

FISTULA AORTO-ENTERICA: RELATO DE CASO

INTRODUÇÃO

Fístulas Aorto-entéricas (FAE) são uma comunicação anormal entre a Aorta Abdominal e o trato gastrointestinal. As fístulas aorto-entéricas primárias (FAEP) decorrem da erosão e comunicação espontânea do aneurisma de aorta abdominal (AAA), enquanto as fístulas aorto-entéricas secundárias (FAES) ocorrem após cirurgia de correção de AAA¹. As FAEP são mais raras que as FAES, com incidência de 0,04% a 0,07%². Nesse trabalho é apresentado um caso de FAEP com 3ª porção de duodeno.

RELATO DE CASO

C.A.S.M., 56 anos, masculino, há 6 dias iniciou com hematêmese volumosa e hematoquezia após esforço evacuatório. Antecedentes: hipertensão arterial sistêmica, doença diverticular e AAA há 4 anos. Ao exame apresentava-se estável e pouco taquicárdico, em regular estado geral, hipocorado 3+/4+, desidratado, afebril e orientado. Abdome escavado, flácido, doloroso à palpação em mesogástrio, com massa pulsátil e sem sinais de peritonite.
Em exames da admissão: anemia (Hb 8,5mg/dL). À endoscopia (EDA) sem alterações. A TC de abdome evidenciou dilatação aneurismática sacular medindo cerca de 8,6 x 4,5cm em contato com a 2ª e 3ª porção do duodeno, além de sinais de oclusão na emergência da artéria ilíaca. Optou-se pela angioplastia de artéria ílíaca esquerda e correção endovascular de AAA infrarrenal, recebendo alta após 10 dias.
Após 2 meses, paciente retornou com dor abdominal pós-prandial há 18 dias, associada à febre diária não aferida. Negou episódios de sangramento gastrointestinal. Ao exame físico sem alterações significativas, com toque retal normal. Apresentava leucocitose com desvio à esquerda, sem anemia e em TC de abdome AAA, excluso por endoprótese, com sinais sugestivos de coleção/abscesso. Optou-se pela abordagem cirúrgica, sendo evidenciada fístula de região de saco aneurismático com terceira porção de duodeno e presença de tecido necrótico ao redor da prótese. Realizou-se enterectomia de 3ª e 4ª porções duodenais e enteroanastomose primária. Permaneceu em antibioticoterapia por 28 dias, com progressão de dieta enteral para via oral. Recebeu alta hospitalar após 28 dias.

DISCUSSÃO

As fístulas aorto-duodenais são o tipo mais comum (60%) devido à estreita relação com duodeno (3ª/4ª porções) com a AA³. Apenas 11% apresentarão a tríade clássica: dor abdominal (64%), sangramento gastrointestinal (32%) e massa abdominal pulsátil (25%)⁴. A EDA é o primeiro exame solicitado; no entanto, poderá ser necessária a complementação com TC abdominal⁴. O reparo endovascular tem sido o tratamento de escolha. Embora forneça tratamento em curto prazo eficaz para o controle do sangramento, o risco de infecção permanece, devendo ser acompanhada de antibioticoterapia intensiva para controle de infecção⁵.
Devido à alta mortalidade, complexidade do diagnóstico e tratamento, este relato mostra a importância de se considerar a história clínica como um norteador diagnóstico apesar da EDA não evidenciar nenhum achado compatível.

PALAVRAS CHAVE

fístula aorto-entérica primária; hemorragia digestiva

Área

ESÔFAGO, ESTÔMAGO E INTESTINO DELGADO

Instituições

Associação Beneficente de Campo Grande - Hospital Santa Casa - Mato Grosso do Sul - Brasil

Autores

RONALD REVERDITO, CAMILA AKEMI YAMASHIRO KOIKE, CLÁUDIA NATÁLIA DE PAIVA LAMEIRA, KAREN MONTEIRO DOS SANTOS