Dados do Trabalho
Título
ÍLEO BILIAR: RELATO DE CASO
Introdução
Íleo Biliar (IB) é uma causa rara de abdome agudo obstrutivo. Sua
fisiopatologia envolve a presença de colelitíase crônica, levando a formação de
fistula com passagem de cálculos para o trato gastrointestinal (TGI), resultando no
impacto destes no lúmen e, por consequência, sua obstrução. É mais comumente
relatado em mulheres maiores de 70 anos e que apresentem comorbidades
associadas. O quadro clínico envolve ausência de flatos e/ou eliminação de fezes,
dor abdominal difusa intermitente, vômitos biliosos e eventualmente fecalóides, e
raramente, icterícia.
Relato de Caso
Paciente feminina, 56 anos, portadora de esquizofrenia, deu entrada no
pronto socorro com quadro de constipação há 7 dias, associado a náuseas e
vômitos. À passagem de sonda nasogástrica evidenciou-se saída de 100 ml de
conteúdo entérico. Os exames laboratoriais constataram leucocitose,
hiperamilasemia, elevação da proteína C reativa, além de aumento de escórias
nitrogenadas. Realizada Tomografia Computadorizada (TC) Abdominal que
demonstrou a presença de colelitiase, aerobilia, distensão de alças intestinais com
imagem sugestiva de cálculo obstrutivo em seu interior aventando-se, assim,
hipótese de Íleo Biliar. Após estabilização inicial com hidratação venosa,
introdução de antibioticoterapia e correção de distúrbios hidroeletrolíticos, paciente
foi submetida a laparotomia exploradora, com consequente enterotomia, retirada
de cálculo obstrutivo e posterior enterorrafia. No pós operatório, apresentou
instabilização hemodinâmica, com necessidade de drogas vasoativas e piora
laboratorial, evoluindo a óbito no quinto dia pós operatório.
Discussão
O
diagnóstico de Íleo Biliar, por ser difícil, muitas vezes é confirmado apenas durante
a laparotomia, mas também pode ser realizado através da TC com a presença da
Tríade de Rigler, composta por pneumobilia, indicando a presença de fistula biliar,
obstrução intestinal mecânica e presença de corpo estranho em lúmen intestinal.
Apesar de patognomônica, está presente em menos de 50% dos casos, tendo
sido demonstrada no caso descrito. A passagem do cálculo para a luz intestinal
decorre de uma fístula entre a vesícula biliar e um segmento do TGI, sendo mais
comumente evidenciada com o duodeno (70% dos casos).
O local mais frequente de impactação do cálculo é a válvula íleo-cecal, por ser a
porção mais estreita do intestino delgado. O tratamento, na maioria dos casos,
consiste na enterotomia para a remoção do cálculo e resolução da urgência, com
inspeção de todo o restante do segmento intestinal para descartar a presença de
outros cálculos. Em casos seletos, existe a possibilidade de realização de
colecistectomia com tratamento da fistula no mesmo procedimento, quando
condições sistêmicas e locais assim o permitirem, pois essa opção apresenta mais
complicações pos-operatorias, aumento do tempo de internação e maior taxa de
mortalidade (17%).
Palavras Chave
Ileo biliar, Rigler, fistula biliar
Área
VIAS BILIARES
Instituições
Hospital Geral de Itapecerica da Serra - São Paulo - Brasil
Autores
Vanessa Cristina Cação, Yasmin Sales Medeiros, Juliana Oliveira Miranda