Dados do Trabalho


Título

ABDOME AGUDO PERFURATIVO NO COVID E SEMPRE CIRURGICO? RELATO DE CASO

Introdução

A úlcera péptica gastroduodenal é uma doença comum e presente na rotina do Cirurgião. Sua perfuração é causa de abdome agudo e uma urgência cirúrgica. O tratamento não operatório desta doença é descrito na literatura médica, mas suas indicações continuam um desafio, ainda maior durante a pandemia de COVID-19. A morbimortalidade geral de procedimentos cirúrgicos realizados em pacientes com diagnóstico positivo do vírus é alta, aproximadamente 23,7% em cirurgias de urgência e emergência. A associação de fatores como aumento da morbimortalidade no COVID, bom estado geral da paciente e obesidade, tornam difícil a decisão de realização de tratamento cirúrgico padrão ou opção não-operatória incomum.

Relato de Caso

Feminina, 64 anos, hipertensa, diabética e obesa grau III, iniciou quadro de síndrome gripal, procurando PS e sendo diagnosticada com COVID-19 após pesquisa de PCR positiva e tomografia de tórax sugestiva. Transferida para o centro de referência do Hospital das Clínicas da USP para suporte clínico. Uma semana após início dos sintomas apresentou dor abdominal súbita, em pontada, localizada no hipocôndrio direito (HCD), sem outros comemorativos. Eupneica em uso de cateter de oxigênio, normocárdica, normotensa, com dor abdominal localizada em HCD e epigástrio, sem sinais de peritonite. Exame físico de avaliação pouco confiável pela obesidade. Peso 137,56 kg, altura 1,65cm, IMC 49,5. Realizou tomografia de abdome e pelve com contraste que evidenciou focos de pneumoperitônio no andar superior do abdome e espessamento parietal da 2ª porção duodenal. Optado por tratamento não-operatório (TNO), de provável úlcera duodenal perfurada e bloqueada em paciente com estabilidade clínica, melhora da dor abdominal e melhora laboratorial (ausência de leucocitose, PCR em curva decrescente). Permaneceu monitorizada, em jejum, com sonda nasogástrica e hidratação endovenosa, reavaliada a cada 06 horas, com exames laboratoriais seriados. Iniciado inibidor de bomba de prótons (omeprazol) na dose de 160 mg diários (80 mg 2x/dia). Evoluiu com melhora da dor abdominal, normalização dos exames laboratoriais. Realizada nova tomografia com contraste oral no 3º dia, sendo evidenciada redução dos focos de pneumoperitônio e ausência de extravasamento do contraste. Liberada dieta no 3º dia com boa aceitação. Alta no 10º dia de TNO em bom estado geral. Programação de endoscopia digestiva alta em regime ambulatorial.

Discussão

O tratamento não operatório de úlceras gastroduodenais perfuradas e bloqueadas é uma alternativa descrita em casos selecionados, principalmente quando o risco cirúrgico seja aumentado e o paciente apresente-se em bom estado geral. Neste caso a participação da paciente foi essencial para permitir o plano terapêutico proposto pela equipe. Em cenários especiais devemos pensar que a natureza às vezes é capaz de resolver seus problemas, a realização do patch de omento (Graham modificado) foi realizada pelo próprio corpo e talvez não seja papel do cirurgião desfazê-lo neste momento.

Palavras Chave

COVID-19; Abdome agudo; Úlcera; Obesidade

Área

URGÊNCIAS NÃO TRAUMÁTICAS

Instituições

ICHC - São Paulo - Brasil

Autores

Henrique Simonsen Lunardelli, Jones Pessoa Dos Santos Junior, Angelo Soo Taa Kum, Carlos Augusto Menegozzo, Roberto . Rasslan, Igor Borba De Souza Benevides, Sergio Henrique Bastos Damous, Edivaldo Massazo Utiyama