Dados do Trabalho


Título

TRATAMENTO CIRÚRGICO DA SÍNDROME DE BOERHAAVE EM HOSPITAL TERCIÁRIO DO INTERIOR DE SÃO PAULO – RELATO DE CASO

Introdução

A síndrome de ruptura espontânea do esôfago foi descrita pela primeira vez por Hermann Boerhaave, em 1724. Caracteriza-se por um aumento súbito da pressão intraluminal do órgão, precipitada por vômitos associada a uma incoordenação do músculo cricofaríngeo. Em 90% dos casos, ocorre no terço distal, na porção lateral esquerda, onde acredita-se ser a área de maior fragilidade. Em 50% dos casos, o paciente pode apresentar a tríade de Mackler, composta por vômitos, principalmente secundários a libação alcoólica e/ou alimentar, dor torácica ou epigástrica súbitas e enfisema subcutâneo. Nos demais, o quadro é inespecífico. Devido a alta morbimortalidade, principalmente por infecções do mediastino, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são imprescindíveis.

Relato de Caso

FPAJ, masculino, 37 anos, deu entrada na emergência de hospital secundário com dor epigástrica de forte intensidade após libação alcoólica e alimentar seguidas de 2 episódios intensos de êmese. Foram realizadas radiografias e tomografia de tórax, evidenciando pneumomediastino e derrame pleural bilateral. Submetido a toracostomia e drenagem torácica bilateral, com saída de líquido achocolatado, com posterior transferência para hospital terciário. Em nosso serviço foi submetido a esofagectomia distal + esofagostomia proximal + gastrostomia + toracotomia com decorticação pulmonar bilateral no 5º dia dos sintomas. Permaneceu em leito de terapia intensiva até o 13º P.O e recebeu alta no 21º para seguimento ambulatorial e programação de esofagoplastia. Após 3 meses foi submetido a procedimento eletivo de reconstrução esofágica com tubo gástrico e anastomose esôfago-gástrica + fechamento da gastrostomia e esofagostomia prévias + jejunostomia alimentar. Permaneceu em leito de semi-intensiva até o 6º P.O e recebeu alta no 16º. Ambulatorialmente, no 4º mês P.O, retorna sem queixas, com boa aceitação de dieta via oral, inclusive para sólidos, já sem jejunostomia e com endoscopia de controle sem alterações, demonstrando anastomose esôfago-gástrica ampla e pérvia à 20 cm da arcada dentária superior.

Discussão

A síndrome de Boerhaave é a perfuração mais letal do trato gastrointestinal, com taxas de mortalidade de até 40%, sendo o diagnóstico precoce e o tratamento adequando os principais fatores prognósticos. Entre os métodos diagnósticos, a tomografia é considerada o melhor, porém os achados dependem do tempo de evolução, local da perfuração e integridade da pleura mediastinal, podendo levar a resultados falso negativos. O tratamento ainda permanece controverso, podendo ser conservador, endoscópico ou cirúrgico e a decisão considera o intervalo, a localização e o tamanho da lesão, além da contaminação da cavidade torácica e estabilidade do paciente. Antes de 24 horas, uma abordagem cirúrgica eleva a taxa de sobrevida para 75%, o que após esse período cai para 50% e para 10% após 48 horas. No entanto, os princípios são os mesmos: controle infeccioso, drenagem adequada, antibioticoterapia e reparo da lesão.

Palavras Chave

Ruptura esofágica; Esofagectomia; Esofagoplastia

Área

ESÔFAGO

Instituições

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - São Paulo - Brasil

Autores

Marcelino Quaglia Morato, Lucas Koji Matsuzaki, Stephanie Kilaris Gallani, Pamela Cristina Bellaz do Amaral Campos Silva, Cláudia Nishida Hasimoto, Walmar Kerche de Oliveira, Mauro Masson Lerco, Maria Aparecida Coelho de Arruda Henry