Título

TAMPONAMENTO CARDÍACO PÓS-TRAUMÁTICO: UM RELATO DE CASO EM CENTRO DE TRAUMA

Introdução

O derrame pericárdico tardio e a pericardite traumática representam raras complicações do trauma torácico. Surgem, predominantemente, no trauma penetrante da área precordial (de Ziedler). Seu diagnóstico é desafiador e a intervenção imediata é necessária quando o paciente apresenta sinais de instabilidade.

Relato de Caso

Paciente masculino, 33 anos, vítima de ferimento por arma branca na transição tóraco-abdominal à esquerda, deu entrada no centro de trauma estável hemodinamicamente, com o diagnóstico inicial de hemopneumotórax à esquerda. Realizado drenagem torácica com débito inicial de 400 ml de líquido sanguinolento. Após estabilização, foi indicado videotoracoscopia com o achado de coágulos na cavidade pleural, diafragma íntegro e lesão pericárdica de 0,5 cm sem derrame ou evidência de lesão no miocárdio. Realizada a aspiração dos coágulos e mantida a drenagem torácica à esquerda. Evoluiu no pós-operatório com dor torácica, ECG com supradesnivelamento de ST difuso e ecocardiograma com espessamento pericárdico, sendo realizado o diagnóstico de pericardite pós-traumática. Após tratamento com anti-inflamatórios e antibióticos teve excelente recuperação e recebeu alta assintomático no sétimo dia de pós-operatório. Cinco dias após a alta, foi readmitido apresentando dispneia, hipotensão, taquicardia, abafamento de bulhas cardíacas, turgência jugular e ECG com baixa voltagem. Após diagnóstico de tamponamento cardíaco foi submetido a toracotomia anterolateral esquerda com achado de líquido citrino na cavidade pleural e pericárdio com lesão prévia tamponada. Realizada pericardiotomia com saída de grande quantidade de líquido serossanguinolento, não sendo evidenciada lesão cardíaca. No pós-operatório apresentou TEP de baixa carga embólica sendo submetido a anticoagulação plena. Teve o dreno torácico retirado no 5º dia de pós-operatório e até o tempo de seguimento de 3 semanas após a alta, não apresentou quaisquer complicações.

Discussão

O trauma torácico é frequente e a ocorrência de lesões cardíacas e pericárdicas vêm acompanhadas de altas taxas de mortalidade. O derrame pericárdico pós-traumático é uma complicação rara, ocorrendo em 0,5% dos traumas torácicos e com etiologia não totalmente compreendida. Ele se insere na síndrome pós-injúria cardíaca, definida como pericardite resultante do dano ao pericárdio podendo ter como origem o infarto agudo do miocárdio (síndrome de Dressler), a síndrome pós-pericardiotomia e a síndrome pós-traumática. Pacientes com derrame pericárdico podem evoluir com tamponamento cardíaco e choque obstrutivo sendo necessário imediata drenagem do líquido pericárdico. Alternativas menos invasivas compreendem a pericardiocentese e a janela pericárdica. Outras alternativas contemplam a esternotomia e a toracotomia. A toracotomia foi a opção no caso em questão, principalmente pela suspeita de lesão miocárdica associada. Seja qual a via escolhida, o mais importante é a rapidez na sua realização o que contribui sobremaneira para o melhor prognóstico.

Palavras Chave

tamponamento cardíaco
trauma torácico
síndrome pós-injúria cardíaca