Dados do Trabalho


Título

PANCREATITE NECROHEMORRAGICA APRESENTANDO-SE COMO HERNIA INGUINAL ENCARCERADA

Introdução

A pancreatite alcoólica crônica pode apresentar surtos agudos, evoluindo para formas graves, como a pancreatite necrohemorrágica. A principal complicação é a infecção, com indicação de abordagem cirúrgica, aumentando ainda mais a morbimortalidade da doença. O caso relatado cursou com apresentação atípica, simulando hérnia inguinoescrotal encarceada, e abordagem precoce, porém com desfecho positivo.

Relato de Caso

PDJ, sexo masculino, 61 anos, etilista, diabético não insulino dependente, com queixa de dor abdominal superior, em faixa, associado a náuseas e inapetência. Histórico de pancreatite alcoólica crônica. Na entrada apresentava-se estável hemodinamicamente, com abdome flácido, sem sinais de peritonite, doloroso à palpação de epigástrio. Exames laboratoriais da admissão demonstrando anemia (Hb 9,9, Ht 33,5), leve leucocitose, amilase 462, DHL 347, PCR 314,7. TC de abdome com contraste EV evidenciou sinais de processo inflamatório/infeccioso pancreático e coleções peri-pancreáticas organizadas, na topografia caudal, medindo 3,9x1,6 cm e outra cefálica/processo uncinado, medindo 3,5x1,8 cm; ectasia da porção proximal do ducto de Wirsung; densificação adjacente e líquido livre em pequena quantidade. Internado e iniciada antibioticoterapia com ciprofloxacino e metronidazol, posteriormente trocado para imipenem. Após 2 dias, evoluiu com dor testicular súbita e abaulamento inguinoescrotal à direita, irredutível, com suspeita de hérnia inguinal encarcerada, confirmada por USG inguinal, sem sintomas obstrutivos. Optado por inguinotomia, visualizado necrose de funículo espermático, com pequena quantidade de líquido purulento, e ausência de conteúdo herniário. Realizada orquiectomia direita e optado por laparotomia exploradora, com achado de grande quantidade de líquido necrohemorrágico e purulento em retrocavidade, pâncreas endurecido, com necrose em cabeça, além de distensão difusa de alças. Realizada necrosectomia, lavagem e drenagem da cavidade, mantido em peritoniostomia. Paciente permaneceu em UTI por 6 dias, mantendo-se estável hemodinamicamente durante todo o período, sendo reabordado para fechamento da peritoniostomia após 72 horas. Evoluiu bem, com melhora clínica e laboratorial, recebendo alta no 7° PO.

Discussão

Relatos na literatura sempre apontam para importante morbimortalidade dos pacientes com pancreatite necrohemorrágica, seja por sepse ou por complicações advindas de cirurgias precoces e REMIT. O presente caso foi abordado precocemente por suspeita de hérnia inguinoescrotal encarcerada aguda, mantido em peritoniostomia devido risco de síndrome compartimentar abdominal. Apesar da patologia grave, em paciente imunocomprometido, com abordagem cirúrgica precoce, o mesmo apresentou evolução satisfatória, apresentando-se estável hemodinamicamente durante toda a internação. A importância do relato se dá pelo desfecho positivo e pela apresentação clínica atípica, com coleção dissecada de retroperitônio simulando hérnia inguinoescrotal encarcerada.

Palavras Chave

pancreatite necrohemorrágica, hérnia inguinoescrotal encarcerada, pancreatite crônica

Área

PÂNCREAS

Instituições

Santa Casa de Limeira - São Paulo - Brasil

Autores

Marcela Costa Vincenzi Lemes, Murilo Rodrigues do Carmo, Ricardo Estevam Martins, Ignacio Leite da Costa, Murilo Barcelos de Souza, Ana Luisa Ferreira e Silva, Fernando Guzman Rodriguez, André Gil