Dados do Trabalho


Título

URGENCIAS CIRURGICAS RELACIONADAS A OCLUSAO ARTERIAL AGUDA SOB A PERSPECTIVA DE GENERO - UM ESTUDO DE BASE POPULACIONAL

Objetivo

As arteriopatias representam um grave problema de saúde pública no século XXI, em escala mundial. Hábitos de vida, alimentação, longevidade e presença de comorbidades são fatores de risco bem estabelecidos para a condição. Homens apresentam maior prevalência de doenças arteriais, entretanto estudos sugerem que as mulheres podem cursar com quadros assintomáticos, clínica atípica e particularidades hormonais, o que pode resultar em evoluções mais desfavoráveis e ocorrência de desfechos agudos graves, como a oclusão arterial aguda (OAA). O presente estudo tem como objetivo analisar o perfil de morbimortalidade das urgências cirúrgicas associadas a OAA no Brasil, entre os anos de 2008 e 2019.

Método

Realizou-se um estudo ecológico, com dados secundários do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), utilizando-se os códigos I.74 da classificação do CID10. A partir do número absoluto de internações e óbitos por OAA, obteve-se a proporção de internamentos e letalidade por gênero, etnia e idade, no período referido. A análise estatística foi realizada por meio do VassarStat (Vassar College/USA) e OpenEpi 3.01 (MIT/USA), considerando p<0,01 significativo.

Resultados

No período analisado, houve 195.567 internamentos por OAA no Brasil, sendo que 111.145 (56,8%) ocorreram entre homens. As mulheres tiveram maior taxa de letalidade (11,2%), em comparação aos homens (8,5%), evidenciando maior gravidade dos eventos [OR=1,4 (1,3-1,42); p<0,01)]. Estratificando por etnia, o sexo feminino apresentou maior proporção de óbitos entre brancas [OR=1,43 (1,37-1,5); p<0,01], pardas [OR=1,3 (1,22-1,38); p<0,01] e pretas [OR=1,42 (1,22-1,66; p<0,01], quando comparadas ao sexo masculino com as referidas etnias. Ao se analisar o número de óbitos entre os gêneros por grupos etários, adultos jovens (18-34 anos) e adultos de meia-idade (36-55 anos) não apresentaram maior letalidade associada ao gênero (p=0,07 e p=0,06, respectivamente). Já entre indivíduos com idades mais avançadas, as mulheres apresentaram maior proporção de óbito associado, com aumento crescente dessa tendência com a idade, tanto no grupo de adultos maduros (56-64 anos) [OR=1,3 (1,2-1,4); p<0,01], quanto idosos (acima de 65 anos) [OR=1,4 (1,32-1,42); p<0,01].

Conclusões

Houve uma tendência de pior prognóstico nas urgências associadas a OAA no sexo feminino, com maior letalidade entre mulheres independente da etnia, sobretudo nos grupos de mais idade, no comparativo ao sexo oposto. A literatura evidencia que as razões para essas diferenças nos desfechos associado ao gênero ainda são incertas e pouco estudadas. Os achados aqui expostos sugerem que o manejo da OAA na mulher pode ser bastante desafiador para serviços e profissionais de saúde, estimulando, assim, que políticas públicas e estudos investigativos se desenvolvam sobre esse importante tema da cirurgia vascular.

Palavras Chave

Urgência e Emergência; Cirurgia; Oclusão Arterial Aguda; Gênero

Área

CIRURGIA VASCULAR

Instituições

Universidade do Estado da Bahia - Bahia - Brasil

Autores

JOÃO HENRIQUE FONSECA DO NASCIMENTO, Adriano Tito Souza Vieira, Iago Miranda Oliveira Dorea, Benjamim Messias de Souza Filho, André Gusmão Cunha, André Bouzas de Andrade, Bernardo Fernandes Canedo, Monique Magnavita Borba da Fonseca Cerqueira