Dados do Trabalho
Título
GLOSSECTOMIA SUBTOTAL COM RETALHO DE PEITORAL MAIOR EM PACIENTE AFRODESCENDENTE SEM FATORES DE RISCOS TIPICOS
Introdução
A cavidade oral é um sítio frequente de surgimento de câncer. Seu perfil epidemiológico é bem estabelecido, assim como alguns fatores de risco, como tabagismo e etilismo. Nesse relato, será reportado o caso de carcinoma epidermóide (CE) em um paciente sem fatores de risco para doença.
Relato de Caso
Masculino, 63 anos, afrodescendente. Encaminhado ao ambulatório por lesão na cavidade oral com surgimento há 3 meses. Nega comorbidades, medicações de uso contínuo, tabagismo, etilismo e qualquer outro fator de risco para doença. Ao exame clínico, apresentava lesão vegetante em face lateral de língua, endurecida e com bordas mal delimitadas. Iniciada investigação complementar com tomografia de pescoço evidenciando impregnação pelo meio de contraste na metade da língua à esquerda medindo 5,3 x 2,4cm, sem invasão ou contato com estruturas adjacentes. Realizada biópsia com resultado anátomo-patológico de carcinoma epidermóide usual. Paciente submetido a glossectomia subtotal à esquerda com esvaziamento cervical bilateral das cadeias I, II e III e reconstrução com retalho de músculo peitoral. Peça cirúrgica encaminhada para anatomopatológico, cujo resultado ainda é aguardado. Paciente evoluiu bem no pós-operatório e seguirá acompanhamento ambulatorial.
Discussão
O CE é o tipo de tumor mais comum da região da cabeça e pescoço, representando aproximadamente 90% dos tumores malignos na cavidade oral.
No estudo de Toscano de brito, R. et al., a média de idade de diagnóstico foi de 65 anos para homens e 75 anos para mulheres. A menor taxa de ocorrência entre indivíduos mais jovens é explicada pelo menor tempo de exposição a fatores de risco, como álcool e tabaco, em comparação com pacientes mais velhos, pois o aumento da idade leva a um maior acúmulo dos efeitos nocivos dos agentes cancerígenos. Na ausência de abuso de tabaco, o sexo feminino tem uma maior taxa de prevalência de câncer de cabeça e pescoço. O que torna o caso incomum é o perfil epidemiológico do paciente. Apesar da idade elevada, o paciente não tinha história de tabagismo ou etilismo, o que é incomum visto que o uso de tabaco é o fator de risco mais importante, atingindo até 80% de prevalência nos pacientes com CE. A ingesta de álcool, por sua vez, não fica muito atrás, com valores entre 50% e 70%.
Outra característica do paciente pouco encontrada em casos de CE de cavidade oral é a afrodescência. No estudo de Mendez, M. et al, 88% dos pacientes eram brancos, dados esse que concorda com a literatura.
A sobrevida desse tipo de lesão foi descrita em um estudo retrospectivo realizado na Espanha por Córdoba et al., que em cinco anos foi de 44,2%.
Portanto, este relato representa a importância de se atentar para diagnósticos diferenciais mesmo nos pacientes sem perfil epidemiológico típico e também reafirma que apesar dos avanços em radioterapia e quimioterapia, a cirurgia ainda representa o alicerce primordial no tratamento.
Palavras Chave
Carcinoma de células escamosas; Cirurgia de cabeça e pescoço; Retalho de músculo peitoral maior
Área
CIRURGIA CABEÇA E PESCOÇO
Instituições
Santa casa de misericórdia de Porto Alegre - Rio Grande do Sul - Brasil
Autores
Pedro Miguel Goulart Longo, Victor Antônio Brocco, Murilo De Oliveira, Andreas Weiand Camara, Virgílio Gonzales Zanella, Luiz Felipe Osowski, Bárbara Henrich Pinheiro, Nicole Elen Lira