Dados do Trabalho


Título

DOENÇA DE CROHN RECIDIVANTE COM INVASAO EM MULTIPLOS ORGAOS: UM RELATO DE CASO

Introdução

Doença de Crohn (DC) é uma inflamação crônica autoimune ligada a mutações genéticas bem reconhecidas, granulomatosa. Afeta de maneira transmural todo o aparelho digestivo, sendo o íleo terminal o mais acometido. As lesões evoluem com fibrose e estenose e complicam formando aderências, fístulas, podendo haver abscessos e extensão da inflamação para outros órgãos. Manifesta-se como dor abdominal e diarreia prolongada e recidivante. O tratamento é realizado com antiinflamatórios, corticosteroides, imunomoduladores e/ou imunobiológicos ou cirurgia em último caso.

Relato de Caso

Paciente feminina de 33 anos diagnosticada com DC há 10 anos, tratada na época com mesalazina e prednisona. Apresentou remissão do quadro, porém abandonou o seguimento. Procurou o ambulatório em 2019 queixando-se de recaída nos últimos dois anos, com piora intensa ultimamente, referindo dor abdominal, diarreia com muco e perda de peso. Ao exame físico, constatou-se massa palpável em fossa ilíaca esquerda (FIE) com aumento de temperatura no local. Levou para a consulta uma colonoscopia prévia do mesmo ano que evidenciou uma estenose no sigmoide. Foi internada e no mesmo dia realizou uma tomografia computadorizada, observando-se um possível abscesso tubo-ovariano e dilatação de trompas. Foi, então, submetida a uma videolaparoscopia diagnóstica (VLP) no dia seguinte a fim de ampliar o estudo: o abcesso foi drenado e averiguaram múltiplas aderências acometendo útero, trompas e alças intestinais. Uma ultrassonografia transvaginal três dias após a VLP confirmou um processo inflamatório em FIE. Então, após nove dias de internação, foi realizada a cirurgia de retossigmoidectomia, enterectomia segmentar, ileotiflectomia, histerectomia, ooforectomia bilateral, ileostomia terminal e implantação de cateter duplo J para proteção do ureter. Durante a cirurgia foram identificadas múltiplas aderências e fístulas e o melhor julgamento no momento foi a remoção em bloco das estruturas acometidas. Todos os órgãos foram encaminhados para o serviço de patologia. Após a alta, a paciente manteve seguimento ambulatorial e obteve o resultado da patologia, que verificou um Carcinoma Espinocelular (CEC) in situ no útero. Foi encaminhada à oncologia para tratamento.

Discussão

Foi relatado aumento de incidência de CEC de ânus e pele em DC, apesar de a relação ainda não estar bem elucidada, e de não haver informações sobre CEC no útero. Estenoses, fístulas e abscessos fazem parte da evolução, assim como dor abdominal e diarreia são sintomas que indicam possível recidiva ou piora, mas, mesmo que recidivas sejam características da DC, é importante seguir a terapêutica para obter melhores resultados e melhor qualidade de vida, pois a não aderência está relacionada ao aumento de risco de recaídas e complicações. Com o adequado acompanhamento, é possível alcançar melhores condutas, resultados e até mesmo tentar prevenir algumas complexidades como neoplasias associadas a massas inflamatórias.

Palavras Chave

Recidivas; Aderências; Complicações; Massas inflamatórias; Neoplasias; Carcinoma Espinocelular

Área

COLOPROCTOLOGIA

Instituições

Universidade Federal do Espírito Santo - Espírito Santo - Brasil

Autores

Fernanda Gazola Mendes, Camila Carlini, Paloma Alves Bezerra Morais, Mariana dos Santos Calazans, Giovanni José Zucoloto Loureiro