Dados do Trabalho


Título

ABSCESSO CUTANEO SECUNDARIO A FISTULA VESICOCUTANEA

Introdução

A fístula vesicocutânea é uma comunicação anômala entre a bexiga urinária e a pele, podendo ser consequência de diversas causas tais como traumas, cirurgias pélvicas e pós radioterapia. A primeira descrição na literatura dessa afecção pós radioterapia foi há cerca de 40 anos em um indivíduo com diagnóstico de neoplasia de próstata. Em relação a apresentação desse tipo de fístula como um abscesso cutâneo originada de tratamento radioterápico prévio, há raros relatos na literatura.

Relato de Caso

Homem, 72 anos, admitido no PS do IAMSPE em abr/20 com quadro de dor, abaulamento e hiperemia na face lateral da coxa esquerda iniciado há 1 dia, sem outras queixas. Ao exame, apresentava taquicardia, abaulamento, hiperemia e flutuação estendendo-se da região inguinal até o terço médio da face medial da coxa esquerda. Toque retal sem abaulamentos ou orifícios fistulosos. Antecedentes de retossigmoidectomia a Hartmann laparotômica em 2019 por adenocarcinoma moderadamente diferenciado de reto médio (pT3pN0) com orquiectomia esquerda por criptorquidia no mesmo tempo cirúrgico. Foi tratado com RT e QT há 17 anos por adenocarcinoma de próstata. Em tomografia computadorizada na admissão foi evidenciado coleção de partes moles, septada, medindo 9x7x6cm no subcutâneo da raiz medial da coxa esquerda e presença de ar no interior da bexiga sem história recente de sondagem vesical. Realizado drenagem cirúrgica, com incisão de 4 cm, com saída de secreção hemopurulenta. No intraoperatório identificado pertuito em direção à sínfise púbica. Cultura da secreção coletada do abscesso e urocultura da entrada com crescimento de Klebsiella pneumoniae ESBL com mesmo perfil de sensibilidade. No pós-operatório apresentou drenagem de urina pela ferida operatória. Realizada nova TC com contraste via sonda vesical no 4º PO que evidenciou trajeto fistuloso vesicocutâneo em direção aos planos musculares da musculatura adutora e teste com injeção de azul metileno via vesical com extravasamento pela ferida operatória e sem evidência de fístula retal. Permaneceu com SVD e evoluiu favoravelmente recebendo alta no 14º dia de internação. Realizado cistoscopia, sem evidência de lesões, com mucosa íntegra e visualização do meato ureteral direito, tópico e meato ureteral esquerdo não visualizado. Cistografia e fistulografia confirmaram presença de fístula vesicocutânea. Injeção de azul de metileno por SVD mostrou pequeno vazamento de corante na região do trígono vesical. Optado por tratamento clínico com sondagem vesical durante 60 dias, com fechamento do pertuito cutâneo e da fístula após esse período.

Discussão

Com o envelhecimento da população e aumento na incidência de neoplasias houve maior emprego de radioterapia, ocorrendo um incremento no número complicações decorrentes dessa prática, o que torna o conhecimento das consequências dessa terapêutica cada vez mais necessários. Os casos encontrados na literatura tendem a indicar um tratamento conservador por meio de sonda vesical com resolução por segunda intenção.

Palavras Chave

Fístula vesicocutânea; abscesso; radioterapia; complicação

Área

UROLOGIA

Instituições

IAMSPE - São Paulo - Brasil

Autores

Maria Clara Pinheiro Costa, Lucas Antonio Pereira do Nascimento, Keityane Lima Pedrosa, Carlos Alberto Hemerly, Murilo Castro Garrote, Vinicius Grigolli, Lucas Martinucci, José Francisco Mattos Farah