Dados do Trabalho


Título

ILEO BILIAR COM OBSTRUÇAO EM JEJUNO PROXIMAL. RELATO DE CASO.

Introdução

O íleo biliar constitui-se em rara afecção considerada como forma de colecistite aguda calculosa complicada. É caracterizado pela presença de fístula colecistoduodenal, ocorrendo migração do cálculo, geralmente único e volumoso, através da luz duodenal ao longo do trato digestivo, impactando-se mais frequentemente no íleo terminal, pouco antes da válvula ileocecal, impedindo sua progressão e determinando aparecimento de quadro de sub(oclusão) intestinal à montante. É mais observado em mulheres idosas, diabéticas, com neuropatia, sendo que metade dos pacientes tem história de colelitíase no diagnóstico. Chama a atenção, no caso em questão, o fato da impactação do cálculo biliar ter ocorrido na porção proximal do jejuno, a 150 cm da flexura duodenojejunal (Treitz), devido ao seu tamanho incomum.

Relato de Caso

Mulher, 71 anos, com antecedente de IAM, ICC e revascularização do miocárdio em 2013, procurou o Pronto Socorro de Cirurgia Geral do Hospital Ipiranga com queixa de náuseas e vômitos de repetição há 15 dias, associada a epigastralgia e diminuição da eliminação de fezes e flatos. Ao exame físico, apresentava-se estável hemodinamicamente, desidratada 3+/4+, afebril, com discreta distensão abdominal e dor difusa à palpação, sem sinais de irritação peritoneal ou massas palpáveis. Radiografia de abdome demonstrou a presença de imagem nodular radiolucente em flanco esquerdo de aproximadamente 5 cm. Ultrassonografia de abdome sem sinais de cálculos no interior da vesícula biliar. Tomografia de abdome evidenciou acentuada distensão da câmara gástrica, de alças duodenais e jejunais proximais, onde observa-se cálculo impactado medindo 5,5 x 3,5 cm nos maiores eixos, determinando transição abrupta de calibre. Vesícula biliar hipodistendida, de contornos indefinidos, apresentando focos gasosos em seu interior. À laparotomia exploradora, observou-se conteúdo sólido intraluminal palpável a 150 cm do Treitz condicionando distensão intestinal à montante. Presença de firmes aderências em topografia da vesícula biliar, sem sinais inflamatórios agudos. Realizada enterotomia com retirada do cálculo e enterorrafia, sem abordagem da vesícula biliar. Paciente recebeu alta no oitavo dia do pós-operatório.

Discussão

Apesar de ser uma complicação pouco frequente da colelitíase, o íleo biliar é responsável por até 4% dos casos de obstrução intestinal mecânica. A conduta cirúrgica frequentemente realizada restringe-se à enterolitotomia e enterorrafia sem abordagem da vesícula biliar e/ou correção da fístula colecistoduodenal. Nesse cenário, alguns pacientes submetidos à TC de abdome no pós operatório tardio revelaram desaparecimento do trajeto fistuloso, formando uma região fibrótica entre as estruturas envolvidas. A enterolitotomia isolada apresenta menores taxas de morbimortalidade comparada à realização concomitante de colecistectomia e correção da fístula colecistoduodenal, principalmente nos pacientes com comorbidades significativas.

Palavras Chave

Íleo Biliar, abdome agudo obstrutivo, colelitíase, colecistite.

Área

VIAS BILIARES

Instituições

Hospital Ipiranga - São Paulo - Brasil

Autores

Lucas Vicente Andrade, Ricardo Reis Gutler, Mario Fernando Dantas Gomes, Clara Silva Freitas, Camila Augusto Gonçalves de Freitas, Francisco de Sales Gadelha de Oliveira Junior, Isadora Barberato Pretto, Eduardo Louzada Purceli