Dados do Trabalho


Título

COLANGITE BILIAR PRIMARIA SIMULANDO COLECISTITE AGUDA

Introdução

A colecistite aguda alitiásica (CAA) é doença inflamatória da vesícula biliar que se manifesta na ausência de calculos biliares. Representa cerca de 2-15% das colecistopatias agudas, ocorrendo com maior frequência em pacientes gravemente doentes e/ou submetidos previamente a grandes cirurgias. O espessamento parietal da vesícula biliar, principal achado confirmatório nos exames de imagem, é comumente encontrado em doenças sistêmicas e hepáticas, não originárias da vesícula biliar. O presente relato faz-se importante por reforçar a investigação clínica e diagnóstico diferencial, evitando intervenções cirúrgicas desnecessários em doentes críticos.

Relato de Caso

Paciente 45 anos de idade, sexo feminino, admitida com queixa de dor epigástrica em cólica há 5 dias, associada a náusea e vômito, com melhora parcial após uso de analgésico e piora após alimentação. Após três dias iniciou prurido seguido de icterícia, colúria e acolia. Ao exame, bom estado geral, hemodinamicamente estável, ictérica ++/4+, afebril. Abdome distendido, com dor a palpação em hipocôndrio direito e murphy positivo. Foi submetida a ultrassonografia de abdome e colangioressonância, sendo aventado o diagnóstico de colecistite alitiasica – vesícula biliar com paredes espessadas e edemaciadas. Realizada investigação laboratorial: bilirrubinas totais: 15,9 mg/dL; bilirrubina direta: 8,94 mg/dL; TGO: 1.250 U/L; TGP: 1.772 U/L; fosfatase alcalina: 99 U/L gama GT: 617 U/L. Considerando paciente jovem e hígida foi optado por investigação adicional com sorologia para hepatites virais e auto-anticorpos. Sorologias para epstein barr, toxoplasmose, citomegalovírus, hepatite A, B e C negativas. Anti LKM1, anti- músculo liso negativos com FAN positivo 1:60 e anticorpo ant mitocôndrial positivo. Feito o diagnóstico de colangite biliar primária foi iniciado tratamento com prednisolona 40mg, ursacol 13mg/kg, com melhora clinica e laboratorial.

Discussão

A suspeita de CAA deve ser levantada em pacientes gravemente enfermos com quadro de sepse e/ou icterícia sem causa aparente, sendo o diagnóstico obtido através da suspeita clínica associada a exames de imagem. A paciente do presente relato apresenta-se hígida sem comorbidades, com um quadro atípico associado a dor abdominal, icterícia e sintomas de bilirrubinemia. Há possibilidades diagnósticas a serem descartadas – colecistite, pancreatite, hepatites virais, doenças auto-imunes dentre outros. É essencial que o diagnóstico seja elucidado de modo assertivo pois procedimento cirúrgico indicado tardiamente relaciona-se com uma mortalidade de pelo menos 30%, associado risco de gangrena e/ou perfuração, enquanto uma colecistectomia em paciente com doença sistêmica ou hepática sem indicação pode culminar em agravamento do quadro e complicações catastróficas como sangramento descontrolado, instabilidade hemodinâmica. Assim, o caso relatado torna-se relevante demonstrando a importância da investigação de diagnósticos diferenciais guiando a melhor terapêutica para o caso.

Palavras Chave

Colecistite aguda alitiásica, vesícula biliar, colangite biliar primária

Área

VIAS BILIARES

Instituições

Hospital Norospar - Paraná - Brasil

Autores

Letícia Rahal Cardoso Barucci, Renan Mozzato Juliani, Mariana Vitória Gasperin, Nelson Antônio Gasperin