Ferimento complexo na região axilar por FAF - Caso Clínico
História: Masculino, 55 anos, vítima de FAF (calibre 12) na axila esquerda há 6 dias. Tratamento em outro serviço, evoluiu com necrose e infecção. Exame: Ferimento extenso na região da axila, região proximal do braço e hemitórax esquerdos (área cruenta-12 centímetros de diâmetro) com exposição e perda de substância de músculos, aponeurose e estruturas neuro-vasculares. Medicado com Daptomicina+Ciprofloxacino (cultura+ para Estafilococo resistente a Oxacilina). Perfusão diminuída na mão, com ausência de pulsos radial e ulnar (perfusão por colaterais), edema e aumento da tensão de compartimentos no MSE. Exame neurológico: hipoestesia/anestesia e paralisia no membro (territórios de mediano, ulnar, radial, axilar e musculocutaneo), dor neuropática (em tratamento com gabapentina+metadona), incapacidade para elevação do ombro, flexão/extensão do cotovelo e movimentação do punho e dedos. Exames complementares (Ultrassonografia Doppler, Angiografia e Angiotomografia): lesão da artéria axilar esquerda no segmento médio com preenchimento da A. umeral no terço médio por colaterais, presença de múltiplos rastilhos metálicos, perda de substância no tríceps braquial. Constatou-se a integridade da artéria subescapular e toracodorsal. Diagnóstico (exame clínico e subsidiários): Área cruenta com lesão da artéria axilar, lesão do tríceps (perda segmentar de cerca de 12 cm)+lesão dos nervos axilar, musculocutaneo, radial, mediano e ulnar. Tratamento (6 dias do ferimento inicial): desbridamentos e curativos a vácuo (3 procedimentos: 6-11-16 dias da lesão) até controle da infecção e necrose. Revestimento cutâneo e reconstrução do tríceps em único procedimento com o retalho musculocutaneo do grande dorsal perfundido pelos vasos toracodorsais e subescapular. Evolução com sinais de retorno parcial da função dos nervos musculocutaneo e do axilar, porém persistindo com déficit do radial, mediano e ulnar, má perfusão periférica, aumento da tensão dos compartimentos do membro superior, edema e paralisia. Realizamos um segundo procedimento cirúrgico 3 meses após a cirurgia do grande dorsal para reconstrução da artéria axilar/braquial com enxerto de veia safena magna, reconstrução dos nervos radial e ulnar com enxerto sural e neurólise do mediano (integro). Evolução com melhora do edema, perfusão (pulsos radiais e ulnares normais), melhora progressiva da sensibilidade e função do membro superior com recuperação da flexo-extensão de dedos, pressão e pinça.
CASO CLÍNICO
Instituto de Ortopedia e Traumatologia - FMUSP - São Paulo - Brasil
Tiago Guedes da Motta Mattar, Gustavo Bersani da Silva, Luciano Ruiz Torres, Emygdio José Leomil de Paula, Rames Mattar Junior