Dados do Trabalho


Título

FEBRE AMARELA: ENVOLVIMENTO RENAL E DESFECHO CLINICO EM PACIENTES DURANTE ENDEMIA DE 2017 E 2018 EM UM CENTRO BRASILEIRO

Introdução

Recentemente o Brasil enfrentou uma endemia de Febre Amarela (FA) próxima a centros urbanos. Nosso objetivo foi observar a taxa de mortalidade associada à FA, características da lesão renal aguda (LRA) e efeitos da plasmaférese e do transplante hepático (TH).

Material e Método

Estudo clínico, retrospectivo, com 30 pacientes admitidos entre set-2017/abr-2018. Os dados foram colhidos dos prontuários. O diagnóstico de FA foi realizado por PCR-rt. O TH foi realizado conforme critérios internacionais e a plasmaférese, por gravidade da doença. Os desfechos avaliados foram recuperação da função renal e mortalidade.

Resultados

Foram incluídos 30 pacientes, 27 (90%) homens, 25 (86%) brancos, idade 45±16 anos; 21 (70%) deles não vacinados contra o vírus FA e 9 (30%) vacinados poucos dias antes da doença. Os pacientes apresentavam, na admissão, escore SOFA de 7 (3,5-8,5), níveis séricos de creatinina 2 (1,1-5,5) mg/dL, lactato 2,2 (1,1-3,8) mmol/L, transaminases AST 8.753 (2.059-11.401) U/L e ALT 3.803 (2.047-5.708) U/L, bilirrubinas total 3,9 (1,5-6,6) mg/dL e direta 3,3 (2,0-4,6) mg/dL, hemoglobina 14 (12-16) g/dL, leucócitos 3,35 (2,21-5,39) x103/µL e plaquetas 84 (54-101) x103/µL; 24 (80%) apresentaram LRA, dos quais 18 (75%) chegaram ao estágio AKIN-3 e 15 (63%) pacientes necessitaram de terapia renal substitutiva. Biópsia renal pós-morte foi realizada em 10 (33%) pacientes: todos apresentaram o diagnóstico de necrose tubular aguda, 3 (33%) tinham necrose glomerular e 1 (10%), nefrite intersticial aguda. Oito (27%) pacientes receberam plasmaférese e quatro (13%) foram submetidos a TH. A mortalidade foi de 47% (14), sendo 58% quando associada à LRA. Todos os pacientes que não tiveram LRA [6 (20%)] sobreviveram, enquanto que todos submetidos a TH evoluíram para óbito. A mortalidade foi associada a maiores escore SOFA (p=0,005), níveis séricos de creatinina (p=0,003), potássio (p=0,02), cálcio iônico (p=0,003), lactato (p=0,04), AST (p=0,008), ALT (p=0,003), leucócitos (p=0,001), diagnóstico de LRA (p=0,01) e realização de TH (p=0,02). Nove pacientes com LRA foram observados por três meses e 2 (22%) desenvolveram doença renal crônica (DRC).

Discussão e Conclusões

Formas graves de FA foram associadas a alta mortalidade, agravada pela presença de LRA. Plasmaférese e TH não foram associados a melhor desfecho. Notou-se alta prevalência de formas graves de LRA. Necrose tubular aguda foi diagnosticada em todas as biópsias renais. A LRA associada a FA pode progredir para DRC.

Palavras Chave

Lesão renal aguda; mortalidade; transplante hepático; biópsia renal.

Área

Lesão Renal Aguda

Instituições

Universidade Estadual de Campinas - São Paulo - Brasil

Autores

Jeslaine Silva, Lygia Lussim, Cinthia Carbonara, Felicio Chueri, Rodrigo Angerami, Mariana Magnus, Elaine C de Ataíde, Plinio Trabasso, Raquel S.B. Stucchi, Ilka F S F Boin, Rodrigo Bueno de Oliveira