Dados do Trabalho
Título
HA EVIDENCIAS PARA A RESTRIÇAO DE TRANSPLANTE RENAL EM TESTEMUNHAS DE JEOVA? AVALIAÇAO DE SEGURANÇA HEMATOLOGICA COM MAIS DE 140 CASOS
Introdução
Testemunhas de Jeová (TJ) são cristãos conhecidos por recusar transfusões sanguíneas, baseados em crenças religiosas. O transplante renal (TxR) nesta população é controverso, devido às limitações para o tratamento de possíveis complicações hemorrágicas. Os autores propõem-se a avaliar a epidemiologia, segurança hematológica e desfechos renais numa coorte de receptores TJ.
Material e Método
Estudo retrospectivo, unicêntrico, de todos os pacientes TJ submetidos a TxR entre janeiro de 1989 e setembro de 2018 e comparado com um grupo controle pareado para idade do receptor, gênero, diabetes, data do TxR, tipo de doador (vivo/falecido). Os desfechos hematológicos incluíram (1) indicação clínica para transfusão de concentrado de hemácias (CH) na primeira semana, definida por concentração de hemoglobina (Hb) <7,0 g/dL; (2) incidência de queda de >2,0 g/dL de Hb e/ou >5% de hematócrito (Ht) comparativamente aos valores pré-transplante ao longo dos primeiros sete dias; (3) incidência complicações hemorrágicas com necessidade de reintervenção cirúrgica; (4) prescrição de novo de agentes estimuladores da eritropoiese (ESA) na alta. Desfechos do TxR incluíram a incidência de função tardia do enxerto (FTE), primeira rejeição aguda comprovada por biópsia (RACB), taxa de filtração glomerular estimada pela equação de MDRD, sobrevida do enxerto e do paciente em 12 meses.
Resultados
Foram incluídos 143 receptores TJ e 142 controles. Não houve diferença na indicação clínica para transfusão de CH (13,3 vs. 11,3%, p=0,604), mas o grupo controle recebeu mais transfusões (2,1 vs. 9,2%, p=0,010). Não se observou diferença na queda de valores de Hb e/ou Ht (81,8 vs. 80,3%, p=0,741), em complicações hemorrágicas com necessidade de reintervenção cirúrgica (3,5 vs. 0,7%, p=0,101) e na prescrição de novo de ESA na alta (20,6 vs. 17,1%, p=0,607). Houve maior incidência de FTE entre os receptores TJ (59,8 vs. 40,2%, p=0,012), mas não em RACB (16,3 vs. 12,1%, p=0,343), função renal (55,0±18,2 vs. 54,2±18,7 ml/min, p=0,729), sobrevida do enxerto (92,6 vs. 93,9%, p=0,656) e do paciente (95,1 vs. 96,2%, p=0,655) ao final de 12 meses.
Discussão e Conclusões
Este estudo demonstra, com base na experiência de 30 anos, que o transplante renal é um procedimento seguro em receptores TJ, com desfechos hematológicos e renais comparáveis à população geral, sem necessidade de suporte transfusional. Sugerimos que o acesso desses pacientes ao procedimento não deva ser limitado por estigmas relacionados às crenças religiosas.
Palavras Chave
Transplante Renal; Complicações Hemorrágicas; Testemunhas de Jeová
Área
Transplante
Instituições
Hospital do Rim - São Paulo - Brasil
Autores
David Fiel, Klaus Nunes Ficher, Julia 'Taddeo Bernardi, kamilla Linhares, Claudia Rosso Felipe, Renato Demarchi Foresto, Hélio Tedesco Silva, Jose Medina Pestana