Título

Úlcera neurotrófica secundária à ressecção de schwannoma de V par craniano - Relato de caso

Introdução

A ceratopatia neurotrófica é uma condição degenerativa da córnea, caracterizada por diminuição ou ausência da sensibilidade corneana. Resulta em maior suscetibilidade da superfície corneana a lesões e compromete a cicatrização da mesma. As células de Schwann são responsáveis pela criação da bainha de mielina. O shwannoma é um tumor benigno originado destas células. E os schwannomas do nervo trigêmeo são incomuns e constituem 0.8-8% dos schwannomas cranianos.

Método

DCS, sexo feminino, 32 anos, deu entrada no Pronto Socorro oftalmológico da Santa Casa de Misericórdia de Limeira em 31/01/19, com queixa de vermelhidão em olho esquerdo (OE), associada a dor ocular, baixa acuidade visual, fotofobia e lacrimejamento há 14 dias. Histórico prévio de ressecção de tumor cerebral ipsilateral há cerca de 05 anos, recidiva e nova ressecção há 01 ano, relatando esotropia (ET) em olho esquerdo após o primeiro procedimento neurocirúrgico. Ao exame: Av CC: 1 /0,025.
OD: sem alterações ao exame oftalmológico.
OE: com restrição de abdução e ET. Anestesia em hemiface e córnea esquerdas.
À biomiscroscopia: hiperemia conjuntival ++/4, edema estromal ++/4, úlcera paracentral (5x3 mm), com vascularização estromal predominante às 6h, flúor positivo, câmara anterior formada, sem reação.
PIO 15 mmHg OD/16 mmHg OE. Coletado raspado corneano para cultura, teste de Gram e antibiograma. Iniciado tratamento com colírios moxifloxacino e lubrificante sem conservantes, de 1/1h, com seguimento diário. Após 3 dias, houve redução do tamanho da úlcera (4x3 mm). Em 7 dias do início do tratamento, observado melhora da AV (0,1). Não houve crescimento de microrganismos na cultura. Mantido antibiótico profilático 4x/dia, lubrificação com colírio de 1/1h e com gel lubrificante 3x/dia. Ao 28 dia de tratamento, paciente apresentava AV 0,2, olho calmo, epitélio corneano íntegro. Suspenso colírio antibiótico e mantido lubrificante sem conservantes. .

Resultados

Após 90 dias, paciente encontra-se sem queixas, com AV 0.3, olho calmo, leucoma paracentral 6h, vascularizado e com epitélio íntegro. Ausência de diplopia. Mantém o ET e a restrição de abdução em OE. Orientada quanto ao caráter irreversível da anestesia corneana e aos riscos inerentes a ela, como possível recorrência da úlcera neurotrófica.

Conclusões

No presente caso notamos a importância de correlacionar a história patológica pregressa associado a achados biomicroscópicos, cultura, GRAM e antibiograma para etiologia e diagnóstico diferencial de úlceras corneanas.

Área

RELATO DE CASO