COROIDITE PERIMACULAR COM EXAMES NORMAIS: E AGORA?
Relatar um caso de coroidite bilateral mostrando a dificuldade na elucidação diagnóstica.
Mulher, 57 anos, procurou serviço de urgência da Clínica de Olhos Santa Casa BH com queixa de BAV em OE iniciada há 10 dias. Relatava que há 06 dias consultou com oftalmologista que prescreveu tratamento para toxoplasmose incluindo corticoterapia oral. Histórias familiar e ocular prévias sem dados importantes. Ao primeiro exame: AVcc de 20/20 em OD e CD 2m em OE; PIO de 20mmHg em AO; biomicroscopia apresentava olhos calmos, córneas claras, flúor negativo, CAF com RCA leve (1+/4+); Fundoscopia em OD foi observado vítreo claro, retina aplicada 360º, lesão perimacular focal temporal superior sugestiva de coroidite e disco óptico normal; e em OE celularidade vítrea (1+/4+), edema de papila com hemorragia peripapilar e descolamento seroso de retina importante acometendo pólo posterior associado a dois pontos focais de coroidite nasal superior. Foram levantadas hipóteses diagnósticas de retinocoroidite herpética, sarcoidose, linfoma, metástase ocular, tuberculose ocular e HIV, sendo optado pela internação da paciente para extensa investigação. Exames complementares laboratoriais e de imagem (incluindo TC de crânio e tórax) encontravam-se negativos, exceto PPD que não foi realizado pela indisponibilidade do teste. ECO B mostrava massas subrretinianas em OE. Foi optado por iniciar Aciclovir EV juntamente com corticóide e tropicamida tópicos. Paciente era acompanhada diariamente e após 07 dias, queixou de piora da AV em OD (20/50), sendo observado aumento da lesão de coroidite temporal superior invadindo a mácula. Diante da piora do quadro, foi decidido iniciar tratamento empírico para TBC com esquema RIPE. Nos dias subsequentes ainda apresentava aumento progressivo da lesão em OD com AV chegando a 20/100. Foi suspenso o Aciclovir EV e mantido esquema RIPE com boa resposta após 08 dias ao apresentar estabilização da lesão coroidiana e da AV em 20/100 OD e CD 2m OE. Nesse momento PPD veio não reator e paciente recebeu alta hospitalar. Durante o acompanhamento ambulatorial houve melhora progressiva da AV em OD (20/25) e cicatrização completa das lesões coroidianas em AO.
A TBC deve sempre ser lembrada como diagnóstico diferencial em casos de uveíte em nosso país, sendo sempre importante afastar causas infecciosas antes do uso de imunossupressor. Além disso deve-se atentar para possível interferência da corticoterapia como fator de PPD falso-negativo, como foi o caso apresentado.
Tuberculose ocular; Coroidite; Descolamento Retina Seroso;
Úveites
Clínico
Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte - Minas Gerais - Brasil
PEDRO REZENDE HENRIQUES, Bernardo Franco Carvalho Tom Back, André Castro Petti, Juliana Cunha Pimentel Ulhoa, Wilton Feitosa Araújo