Dados do Trabalho
TÍTULO
HERNIA DE AMYAND COMPLICADA: RELATO DE CASO
INTRODUÇÃO
A Hérnia de Amyand (HA) é uma condição rara, definida pela presença do apêndice vermiforme no saco herniário de uma hérnia inguinal. A apendicite em HA é ainda mais rara, com incidência de 0,07% a 0,13%, e destas apenas 0,1% perfurada. Devido sua elevada raridade, emerge como um desafio para o cirurgião.
RELATO DE CASO
Paciente sexo feminino, 62 anos, em acompanhamento ambulatorial para hernioplastia inguinal direita, comparece ao serviço em fevereiro de 2021 com encarceramento de hérnia inguinal direita, cursando com dor intensa e abaulamento local. Tabagista 12 anos/maço. Na admissão, foi realizada redução da hérnia com alívio dos sintomas, porém houve recorrência, dor local e vômitos incoercíveis. Foi submetida à hernioplastia inguinal direita pela técnica de Shouldice, e constatada volumosa hérnia inguinal, com destruição da parede posterior no intraoperatório. Realizada exérese de nodulação endurecida de cicatriz cesárea e de linfonodo inguinal. No pós-operatório (PO) evoluiu de forma satisfatória, e recebeu alta no 3° dia de internação.
No 4° dia de PO, paciente retorna ao pronto atendimento séptica, taquicárdica, com queixa de dor intensa em fossa ilíaca direita (FID), hiporexia, vômitos e febre. Ao exame físico Blumberg positivo, deiscência da ferida de inguinotomia e drenagem de secreção serosanguinolenta. Exames apresentavam leucocitose, proteína c reativa elevada e alcalose respiratória. Optou-se pela realização de laparotomia exploradora, que se sucedeu com o inventário da cavidade, apendicectomia e herniorrafia pela presença de uma HA Tipo III (Losanoff e Basson). Foram identificados bloqueio, abscesso em FID e apendicite Grau 3B (Gomes et al). O terço distal do apêndice projetava-se no interior do anel inguinal interno, dessa forma, prosseguiu-se com o fechamento do mesmo em face peritoneal, com reforço do ligamento redondo e trompa uterina direta. Procedimento transcorreu sem intercorrências.
DISCUSSÃO
A conduta médica dos casos de HA deve ser individualizada, com base nas características do apêndice situado no saco herniário e suas possíveis complicações. A classificação intraoperatória descrita por Losanoff e Basson norteia a proposta terapêutica, por subdivisão em quatro tipos. No tipo III é visualizada apendicite aguda e peritonite, sendo preconizada laparotomia, apendicectomia e reparo da hérnia sem uso de tela. No intraoperatório, o cirurgião deve analisar criteriosamente o apêndice antes de realizar a apendicectomia, além de decidir sobre a colocação de tela com base nos achados cirúrgicos, no grau de apendicite, na hérnia e nas condições do paciente. Nos casos de apendicite, a literatura relata maior preferência dos cirurgiões pela herniorrafia (63,7%), em comparação à tela (21,2%), por se tratar de ambiente potencialmente contaminado, com maior risco de recorrência, fístula, infecção do sítio cirúrgico e sepse. Quanto à morbimortalidade, a HA possui taxas semelhantes em comparação com a hérnia inguinal típica, desde que a conduta seja adequada.
PALAVRAS CHAVE
Hérnia de Amyand, Hérnia Inguinal, Apendicectomia, Apendicite Aguda.
Área
MISCELÂNEA
Instituições
Hospital e Maternidade Therezinha de Jesus (HMTJ) - Minas Gerais - Brasil
Autores
LUCAS MACHADO DE SOUZA VICENTE, ANA LUÍZA DE CASTRO CARVALHO, MARINA BARBABELA GRISOLIA DE OLIVEIRA, IGOR OLIVEIRA FERREIRA, THAIS BANDEIRA DE OLIVEIRA JUNQUEIRA, LUIZ FELIPE COSTA MELLO, LEONARDO PANCINI FAIOLI GONZAGA, JOÃO BAPTISTA DE PAULA FRAGA