Dados do Trabalho


TÍTULO

OXIGENOTERAPIA HIPERBARICA NO TRATAMENTO COMPLEMENTAR DA DEISCENCIA DA FERIDA PERINEAL APOS AMPUTAÇAO ABDOMINOPERINEAL DO RETO EXTRA-ELEVADORES

INTRODUÇÃO

Apesar da quimiorradioterapia (QRT) neoadjuvante aumentar os índices de preservação esfincteriana, a amputação abdominoperineal de reto extra-elevadores (AAPRE) continua necessária para tumores avançados de reto baixo ou nas recidivas perineais. Apesar de menor taxa de recidiva e margem radial comprometida, a AAPRE leva a formação de ferida operatória perineal (FOP) de maior proporção. Logo, a FOP deiscente ainda é uma complicação comum e de difícil tratamento após a AAPRE, sendo uma das principais causas de morbidade pós-operatória. Ao longo dos anos foram propostas diversas estratégias para o tratamento das complicações da FOP e o uso da oxigenoterapia hiperbárica (OHB) vem emergindo como uma estratégia interessante nesta complexa situação.

RELATO DE CASO

Mulher, 65 anos, diagnosticada com adenocarcinoma de reto médio, submetida a QRT neoadjuvante convencional e retossigmoidectomia anterior com anastomose primária. O estudo anatomopatológico mostrou um tumor T3cN0cM0, com todas as margens livres de neoplasia. Após 2 anos, durante o seguimento, identificou-se recidiva tumoral na anastomose. Foi indicada a AAPRE com pan-histerectomia, em posição pronada. A FOP foi fechada primariamente e não houve intercorrências intraoperatórias. Evoluiu bem até o 8º PO, quando apresentou deiscência parcial da FOP, que progrediu no 17º PO para deiscência total com exposição da cavidade pélvica, sem prolapso do intestino delgado. A FOP foi manejada clinicamente e não houve sinais de infecção secundária. Objetivando otimizar a cicatrização da FOP optou-se pela indicação de OHB, realizadas 10 sessões com duração de até 1h e 30 minutos em cada. A paciente não teve outras complicações operatórias e recebeu alta após o término da OHB, com FOP ainda aberta, mas com redução significativa de suas dimensões, do exsudato e aumento evidente do tecido de granulação. No momento, a FOP apresenta pequenas dimensões estando praticamente cicatrizada.

DISCUSSÃO

Existem diversos fatores comprovadamente contribuintes de uma pior cicatrização perineal após AAPRE, dos quais se destaca a QRT neoadjuvante. Apesar de seu uso terapêutico indispensável, a QRT traz uma série de efeitos adversos que contribuem para maiores taxas de complicações da FOP.
Apesar das diferentes estratégias propostas para o tratamento das FOP, a melhor opção ainda é motivo de controvérsia. Logo, a OHB emerge como uma estratégia factível nesses casos. Apesar do seu uso estar bem estabelecido em várias condições clínicas, ela ainda é pouco indicada para manejo complementar das deiscências das FOP após a AAPRE.
A OHB está bem estabelecida para o tratamento das feridas crônicas, especialmente àquelas onde há alterações isquêmicas. A OHB ao aumentar a tensão de oxigênio no tecido para até 80% do normal, induz a neovascularização e aumenta o aporte de colágeno, favorecendo a cicatrização. A OHB pode ser uma estratégia pouco invasiva e promissora para o tratamento adjuvante das complicações da FOP após a AAPRE.

PALAVRAS CHAVE

amputação de reto; amputação abdominoperineal; quimiorradioterapia neoadjuvante; terapia neoadjuvante; deiscência perineal; ferida operatória perineal; oxigenoterapia hiperbárica; complicação pós-operatória; adenocarcinoma de reto; câncer colorretal.

Área

CÂNCER COLORRETAL

Instituições

HUSF - São Paulo - Brasil

Autores

KAROL SOTELO CÔRTES, JULIANA MARIA BESTETTI, NINA PIMENTA HENRIQUE, TALITA DE LIMA PEREIRA DA CRUZ, DANIEL DE CASTILHO DA SILVA, DANILO TOSHIO KANNO, ROBERTA LAIS DOS SANTOS MENDONÇA, CARLOS AUGUSTO REAL MARTINEZ