Dados do Trabalho


TÍTULO

Laceração Perineal Grau III/IV em parto vaginal: Episiotomia seria uma violência obstétrica ou protetora do aparelho esfincteriano anal?

INTRODUÇÃO

Episiotomia é um procedimento cirúrgico que amplia a abertura vaginal por uma incisão no períneo no final do período expulsivo, para o desprendimento fetal. Objetiva proteger o períneo contra lesões, porém, não há evidência científica suficiente sobre sua efetividade. Além disso, episiotomia mediana é fator de risco para lacerações de III/IV grau, portanto, se indicada, recomenda-se episiotomia lateral, evitando-se o aparelho esfincteriano anal. A questão atual na literatura é quais são os limites entre a episiotomia necessária e quando se torna uma violência à mulher? Assim, durante a realização do parto, fatores que podem prejudicar a gestante e causar consequências para sua qualidade de vida posterior, são considerados violência obstétrica e a episiotomia tornou-se seletiva e não mais rotineira. No entanto, seria a episiotomia, em primíparas, uma violência obstétrica ou a falta dela poderia causar um dano maior? Apresentamos a seguir o relato de dois casos com laceração perineal grave.

RELATO DE CASO

Caso 1: Paciente de 25 anos, hígida, primípara, submetida a parto normal de RN a termo, com uso de fórceps e episiotomia mediana, observando-se após o parto uma rotura de IV grau, com comunicação total entre vagina e reto, com extensão de 9 cm dentro do reto, rotura do septo retovaginal, musculatura perineal, esfíncteres interno e externo do ânus e canal anal. Realizada pela Coloproctologia a reconstrução da vagina, musculatura do septo retovaginal e períneo, do esfíncter externo em “jaquetão” e do interno e rafia da parede retal e canal anal. Boa evolução, com alta no 5º PO, com controle esfincteriano preservado.
Caso 2: Paciente de 17 anos, hígida, primípara, submetida a parto normal induzido, com 38 semanas, sem realização de episiotomia. Na revisão do canal de parto, identificada laceração parauretral bilateral sendo corrigida. Após 7 horas, evoluiu com dor vulvar, sangramento ativo e hematoma em períneo à direita, com queda de Hb de 12,4 para 8,4, indicado drenagem do hematoma em parede vaginal lateral direita e identificado rotura perineal grau IV. Realizada pela Coloproctologia a reconstrução anatômica de parede vaginal, musculatura perineal e esfíncter externo do ânus. Boa evolução, com alta no 4º PO, com continência fecal mantida.

DISCUSSÃO

Conforme a literatura, a incidência de lacerações perineais no parto vaginal é de 78,2%, sendo 2,5% graves. Fatores como idade materna, paridade, uso de fórceps e episiotomia influenciaram na sua ocorrência sendo que a primiparidade aumentou a chance de laceração 5,3 vezes. Além disso, mulheres que tiveram laceração grau III/IV são mais propensas (23,0%) a ter incontinência fecal. Assim, é importante proteger períneo e realizar episiotomia lateral (e não mediana), se bem indicada, visando prevenir lacerações perineais graves que, embora raras, causam danos a longo prazo na qualidade de vida. E, é importante detectar as lesões e realizar reconstrução anatômica dos planos imediatamente, após o parto, para evitar incontinência fecal.

PALAVRAS CHAVE

Violência obstétrica, rotura perineal, laceração de reto

Área

URGÊNCIAS COLOPROCTOLÓGICAS

Instituições

UNIFESP EPM - São Paulo - Brasil

Autores

MARIANA ARAÚJO SANTOS, RAINA CATERINA COELHO ARRAIS, MARIZA HELENA PRADO KOBATA, SARHAN SYDNEY SAAD, ELESIARIO MARQUES CAETANO JUNIOR , ISADORA LAGRECA GARRAFA TREPTOW