Dados do Trabalho


TÍTULO

TECIDO CEREBRAL ECTOPICO SIMULANDO TUMOR PARARRETAL: RELATO DE CASO

INTRODUÇÃO

Heterotopias cerebrais (presença de tecido normal em uma localização anormal, sem continuidade com cavidade craniana e coluna vertebral) são raras e geralmente lesões isoladas e assintomáticas. Relatamos um caso de tecido neural ectópico, em localização pré-sacral em adulto, oligossintomático, descoberto durante investigação de diarréia crônica

RELATO DE CASO

J.S, 57 anos, masculino, deu entrada no Hospital Municipal Dr. Mário Gatti com diarréia há 15 dias, dor lombossacra e em membro inferior há 18 meses. Ao exame físico, abdome flácido, reto com mucosa lisa e abaulamento extrínseco da parede posterolateral esquerda. RNM de pelve de 07/2020 mostrou tumoração pararretal à esquerda medindo 8,3x7,4x8,4 cm, heterogênea, com áreas de alto sinal, rechaçando o reto. Sem infiltração de paredes e fáscia, sem adenomegalias mesorretais, ilíacas ou inguinais, sugerindo tumor mesenquimal. Submetido à laparotomia com achado de tumor pararretal, abaixo da reflexão peritoneal, com efeito de massa e plano de clivagem entre as estruturas. Realizada exérese da lesão sem violação do conteúdo. Evoluiu favoravelmente. O anatomopatológico descreveu proliferação fusocelular sem atipias, estroma hialinizado e células epitelióides em blocos sólidos ao lado de histiócitos xantomáticos. A imuno-histoquímica concluiu tratar-se de folhetos glioneuronais maduros descontínuos, em meio a tecido fibroadiposo, com células gliais astrocíticas e ganglionares, além de canais císticos revestidos por células de diferenciação ependimária, expressão de GFAP, S-100 e sinaptofisina, baixo índice Ki 76 e atipias mitóticas insignificantes. Como possibilidades incluíam neoplasia de origem ectópica ou hamartomatosa, com diferenciação glioneuronal, sendo classificado como heterotopia neuroglial ou tecido cerebral ectópico, com localização em partes moles de retroperitônio junto ao sacro. Paciente em seguimento ambulatorial sem queixas ou sinais de recidiva.

DISCUSSÃO

As teorias sobre a patogênese do tecido cerebral ectópico incluem herniação do tecido cerebral fetal na embriogênese (semelhante às encefaloceles); restos neurais com potencial para diferenciação em diferentes tecidos neurais; desenvolvimento preferencial de uma camada germinativa de um teratoma dentro da linha das células neurais e astrocitomas verdadeiros. Geralmente são células gliais e tecido conjuntivo fibroso. Comumente são lesões sólidas ou císticas com efeito de massa. Microscopicamente, são de tecido glial com astrócitos fibrilares ou gemistocíticos espalhados por um fundo fibrilar, com tecido conjuntivo fibroso. Imunohistoquimicamente, expressam marcadores de tecido glial (GFAP), neuronal (sinaptofisina, NeuN), ependimal (CD99, EMA) ou diferenciação do plexo coróide (CK). Possuem bom prognóstico, pois são benignas e de crescimento limitado. A ressecção incompleta pode levar à recorrências, casos de transformação maligna já foram descritos. O tratamento é a ressecção completa precoce para prevenir defeitos funcionais ou estéticos.

PALAVRAS CHAVE

CEREBRO ECTÓPICO, TUMOR PARARRETAL

Área

MISCELÂNEA

Instituições

HOSPITAL MUNICIPAL DR MÁRIO GATTI - São Paulo - Brasil

Autores

KELLY DANIELLE SILVA VIEIRA, VITÓRIA SOUZA OLIVEIRA, GABRIELA DOMINGUES ANDRADE RIBEIRO, GUSTAVO SEVA PEREIRA, JOAQUIM JOSE OLIVEIRA FILHO, PAULA BUOZZI TARABAY, THALITA ZANNES MAIO BANDEIRA