Dados do Trabalho


TÍTULO

ESTENOSE ANAL SIMULANDO TUMOR ANORRETAL COMO PRIMEIRA MANIFESTAÇAO DA DOENÇA DE CROHN

INTRODUÇÃO

A Doença de Crohn (DC) tem uma mediana de idade no diagnóstico de 29,5 anos e apenas 10% dos casos são diagnosticados a partir de estenoses intestinais, segundo Rieder et al (Gastroenterol., 2017, v.152(2):340-50). Estas são menos frequentes que as fístulas e, quando ocorrem, são mais frequentes no íleo e menos no cólon (RIEDER et al, Gut, 2013, v. 62(7):1072-84). Relata-se uma apresentação tardia e infrequente da DC.

RELATO DE CASO

Paciente masculino, 50 anos, com história de obstrução intestinal baixa progressiva. Em 2016 foi submetido a colonoscopia, devido a dor anal, esforço evacuatório e hematoquezia, que evidenciou estenose retal baixa, intransponível ao aparelho, sugestivo de Doença Inflamatória Intestinal (DII), sem iniciar tratamento. Em nova tentativa de colonoscopia em 2017, lesões ulceradas em margem anal de bordas endurecidas com fibrose estenosante impediram progressão do aparelho, marcando o início de suspeita de tumor anorretal; o anatomopatológico não mostrou sinais de malignidade. Com a piora da constipação, dor ao evacuar, melena e perda ponderal de 10% em 1 ano, foi encaminhado à coloproctologia em 2019, pela suspeita de neoplasia. Ao exame físico, apresentou estenose retal a 3 cm da borda anal, lesão elevada em canal anal distal e pele perianal endurecida com sinais de infiltração inflamatória. Um novo anatomopatológico perianal evidenciou pólipo fibroepitelial; enquanto o exame da mucosa retal mostrou processo inflamatório crônico intenso com fibrose e microabscessos de criptas sugestivos de DII. Neste momento, iniciou-se tratamento para DC com Infliximab e Azatioprina com melhora do aspecto macroscópico da lesão perianal; paciente mantém seguimento para dilatação instrumental periódica.

DISCUSSÃO

Apesar das DIIs afetarem qualquer idade, a DC geralmente é diagnosticada entre 15 e 35 anos, divergindo do caso, cujos sintomas obstrutivos iniciaram aos 45. Ressalta-se ainda que os principais sintomas da DC são diarreia, dor abdominal e perda de peso, sendo a estenose a causa do diagnóstico em apenas 10% dos casos. Diante da idade, alteração do hábito intestinal, sintomas obstrutivos e perda ponderal, associados às evidências de maior prevalência de câncer anal em DC, segundo Devon et al (Dis Colon Rectum, 2009, v.52(2):211-6), descartar uma neoplasia anorretal foi imprescindível. Após a ausência de malignidade ao anatomopatológico e evidências inflamatórias, o diagnóstico de DC com estenose anorretal isolada, subtipo de difícil identificação e manejo, foi definido (LIGHTNER et al, Dis Colon Rectum, 2020, v.63:1639-47). No caso, epidemiologia e clínica se dissociaram do resultado anatomopatológico esperado, o que atrasou o início do tratamento e permitiu o agravo da estenose. Sendo assim, o diagnóstico das DIIs estenosantes deve estar em mente como diferencial diante de sintomas obstrutivos, mesmo em pacientes com epidemiologia e clínica compatíveis com neoplasia, para evitar adiar o tratamento e suas repercussões na qualidade de vida.

PALAVRAS CHAVE

Doença de Crohn; Estenose Anorretal; Neoplasias Colorretais

Área

DOENÇAS INFLAMATÓRIAS DO INTESTINO

Instituições

Universidade Federal da Paraíba - Paraíba - Brasil

Autores

ANA BEATRIZ VENANCIO DE PAULA BEZERRA, MANUELA LUCENA DE ALEXANDRIA, BRUNA GUIMARÃES, FABIO ANTONIO SERRA DE LIMA JUNIOR, LAÍS MARIA FRAGOSO BORGES, MARIANA MOREIRA DE OLIVEIRA FAMA, ANA VITORIA BORGES DE AMORIM, SHIRLANE FRUTOSO MALHEIROS