TÍTULO

ASCARIDIASE EM VIA BILIAR: RELATO DE CASO

INTRODUÇÃO

O Ascaris lumbricoides é o parasita intestinal mais prevalente no mundo, acometendo principalmente a população de países subdesenvolvidos com condições sanitárias precárias.
Além do intestino delgado, vermes adultos podem ser encontrados em locais ectópicos, como a árvore biliar, câmaras cardíacas, trompa de Falópio, ducto lacrimal e árvore respiratória.

RELATO DE CASO

Paciente feminina, 20 anos, procura serviço queixando-se de dor abdominal em hipocôndrio direito há dois dias, associada a vômitos com eliminação de vermes através destes. Ao exame, apresenta-se consciente e orientada, levemente hipocorada e desidratada, ictérica. Abdome plano, em tábua, doloroso difusamente à palpação. Exames laboratoriais evidenciaram quadro de pancreatite aguda ( Amilase 3532; Bilirrubina 7,72 - sendo 5,73 de fração direta- e Leucocitose de 18900 sem desvio à esquerda). Solicitado ultrassonografia de abdome superior para elucidar a etiologia da pancreatite, demonstrando vesícula biliar com paredes regulares, conteúdo heterogêneo, sem evidência de cálculos. Identificada estrutura lombricoide no seu interior, ecogênica, tanto no interior da vesícula como do colédoco, apresentando movimento e provavelmente relacionado a vermes (Ascaris?).
Iniciou-se, então, tratamento com Ciprofloxacino e Metronidazol. Paciente permaneceu internada por 5 dias evoluindo com melhora gradativa do quadro álgico. Evoluiu com normalização dos índices de leucocitose, assim como melhora da hiperbilirrubinemia e hiperamilasemia. Foi solicitada nova ultrassonografia de abdome antes da alta hospitalar, não sendo mais visualizada a presença dos vermes. Paciente recebeu alta assintomática, com melhora completa do quadro clínico, encaminhada para seguimento em Unidade Básica de Saúde.

DISCUSSÃO

A infestação por Ascaris lumbricoides é endêmica em regiões tropicais de países subdesenvolvidos. Dados de 2008, da Organização Mundial de Saúde, estimam que mais de 980 milhões de pessoas no mundo estejam parasitadas por esse agente.
A presença de ascaridíase na árvore biliar não é condição incomum. Na ascaridíase biliar as lesões são causadas diretamente pela presença do verme nas vias biliares ou induzindo espasmo esfinctérico e reação inflamatória. Na paciente do relato, a presença do verme na via biliar ocasionou um quadro de obstrução mecânica, deflagrando uma resposta inflamatória que levou a um quadro de pancreatite aguda.
O diagnóstico de ascaridíase é através do exame parasitológico de fezes. A confirmação de ascaridíase biliar é feita pela ultrassonografia, que demonstra ductos biliares dilatados contendo imagens lineares ou circulares, além de revelar os movimentos ativos do verme dentro do sistema biliar.
O tratamento da ascaridíase biliar é clínico. Sintomáticos são usados inicialmente, estando os anti-helmínticos indicados após a fase aguda, a fim de eliminar o verme da via biliar. A cirurgia fica restrita a casos com falência do tratamento clínico e onde não está disponível o tratamento endoscópico.