Dados do Trabalho
TÍTULO
INGESTAO INADVERTIDA DE CORPO ESTRANHO COM TRANSFIXAÇAO DE PAREDE DUODENAL E PROJEÇAO NO INTERIOR DA VEIA RENAL DIREITA
INTRODUÇÃO
A ingestão de corpo estranho é uma situação bastante comum na prática médica. É encontrada mais frequentemente entre crianças de 6 meses a 6 anos, podendo também ser vista em adultos e idosos.
Nos adultos, em sua grande maioria, ocorre de forma acidental, sendo o corpo estranho ingerido juntamente com alimentos. Entretanto, a ingestão pode ser proposital, como acontece com maior frequência em pacientes psiquiátricos, detentos e indivíduos alcoolizados.
Diagnóstico precoce e tratamento adequados são fundamentais para o manejo ideal, conferindo segurança e prevenindo complicações mais graves.
RELATO DE CASO
Paciente masculino, 67 anos, deu entrada no Pronto Atendimento do Hospital Felício Rocho no dia 01/09/2018. Queixava dor epigástrica leve e lombar à direita há 2 semanas, após ingestão de doce de milho verde; além de febre iniciada no dia anterior.
Foi submetido à tomografia de abdome que evidenciou corpo estranho perfurante (palito) transfixando a parede posterior da segunda porção duodenal, com extremidade projetada no interior da veia renal direita, associado a processo inflamatório perirrenal com provável abscesso do parênquima.
Foi internado e iniciada antibioticoterapia venosa com melhora clínica. Após discussão com a equipe de endoscopia optou-se por remoção endoscópica sob anestesia geral em ambiente cirúrgico. Nova tomografia de abdome mostrou trombose parcial da veia renal direita e redução dos sinais de processo inflamatório local.
No dia 10/09 foi submetido à endoscopia digestiva alta com retirada do corpo estranho sem complicações imediatas evidentes. Cerca de 10 minutos após o procedimento, o paciente evoluiu com bradicardia grave e queda da saturação de O2, necessitando de medidas de suporte intensivo e aminas vasoativas.
A hipótese de tromboembolismo pulmonar foi confirmada por angioTC.
O paciente teve alta hospitalar após 8 dias do procedimento.
DISCUSSÃO
A história clínica do paciente não levantou suspeita do diagnóstico, sendo confirmado pelo método de imagem. Frente a uma situação clínica inusitada como esta, muitos questionamentos se fazem a respeito da melhor abordagem. A primeira se refere à via de acesso para a remoção do objeto. Devido ao risco de sangramento o acesso laparotômico poderia ser mais seguro; no entanto, mais agressivo. Por outro lado, a remoção endoscópica parecia mais simples, embora a possibilidade de complicação hemorrágica fosse um risco real sem que houvesse acesso rápido ao local. Outra questão se refere à conveniência do uso de anticoagulantes uma vez que a possibilidade de trombose e sangramento estão envolvidas. Nesse caso não foram utilizados. O TEP ocorreu como grave complicação, porém foi prontamente manejado, já que o paciente se encontrava sob anestesia geral no bloco cirúrgico.
Lesões como a do caso relatado acima são pouco descritas na literatura e de difícil manejo, sendo portanto, necessária avaliação de equipe multidisciplinar, além de um ambiente equipado com os recursos necessários, para melhor condução do caso.
Área
ESTÔMAGO E DUODENO
Instituições
HOSPITAL FELÍCIO ROCHO - Minas Gerais - Brasil
Autores
TAYNAN FERREIRA VIDIGAL, ROBERTO CARLOS DE OLIVEIRA E SILVA, THAÍS ROCHA DE SENA