TÍTULO

HERNIA DE AMYAND: UM RELATO DE CASO

INTRODUÇÃO

Descrita por Claudius Amyand no ano de 1786 após encontrar um apêndice cecal perfurado dentro de um saco herniário, a hérnia de Amyand desde então é definida pela presença de apendicite aguda em conteúdo herniário. Apresenta uma incidência rara aproximada de 0,13%, tendo um manejo desafiador, com manifestação clínica bastante variável e diagnóstico feio na maioria das vezes apenas no intraoperatório. O presente trabalho visa apresentar um caso incomum de Hérnia de Amyand.

RELATO DE CASO

Paciente do sexo masculino, 30 anos de idade, sem comorbidades prévias, é admitido em serviço de emergência com hérnia inguinal encarcerada à direita. Após coleta de exames laboratoriais, paciente é encaminhado imediatamente para cirurgia. Em campo cirúrgico, após abertura do canal inguinal, é encontrado espessamento e edema de todas as estruturas do cordão espermático. Após abertura do cordão, notou-se a existência de um abcesso importante e do apêndice vermiforme fixo dentro do saco herniário, com necrose da porção final. Foi realizada liberação e remoção do apêndice, que foi enviado para estudo anatomopatológico, realizada então ligadura dupla da sua base e consequente redução da base para a cavidade. O resultado da macroscopia patológica trouxe a comprovação de apendicite aguda purulenta, com peritonite aguda associada. Ao analisar o resultado dos exames laboratoriais, paciente apresentava leucocitose com desvio à esquerda importante. Paciente então permaneceu internado em esquemas de antibióticos (metronidazol e ciprofloxacino) endovenosos durante 3 dias, recebeu alta para uma hernioplastia eletiva em segundo tempo, com orientações para término do esquema por mais 4 dias em seu domicílio.

DISCUSSÃO

O diagnóstico pré-operatório da hérnia de Amyand é extremamente raro, sendo, na maioria dos casos, realizado apenas durante a intervenção cirúrgica de urgência. A apresentação clínica predominante é de surgimento de abaulamento doloroso na região inguinal, podendo estar presentes dor abdominal e sinais de obstrução do intestino delgado. Embora a esmagadora maioria dos diagnósticos de hérnia de Amyand sejam feitos no intraoperatório durante a abordagem do saco herniário, alguns autores advogam o uso da tomografia computadorizada de abdome e pelve com contraste diante de quadros sugestivos de apendicite aguda em pacientes com abaulamento na região inguinal – haja visto o fato de ela ser o método de imagem “padrão ouro” para diagnóstico desta patologia. A apendicectomia através do saco herniário é o tratamento de escolha. As taxas de mortalidade variam entre 14-30%. Apesar de rara, a Hérnia de Amyand é um desafio diagnóstico e terapêutico para o cirurgião e a maioria das decisões continuará baseada no achado intraoperatório e na experiência acumulada pelos diferentes casos, implicando em diferentes taxas de mortalidade, infecção e recorrência.