Dados do Trabalho


TÍTULO

AEROPORTIA: UM SINAL GRAVE E INCOMUM SECUNDARIO A ISQUEMIA MESENTERICA

INTRODUÇÃO

A aeroportia (AP) presente neste caso é um achado radiológico raro e pouco discutido na literatura científica, mostrando a necessidade da análise de sua patogênese para maior entendimento. Sua principal etiologia é a isquemia mesentérica (IM), embora abscessos intra-abdominais e outras causas mais raras (colecistite enfisematosa, diverticulite, pancreatite grave) também serem encontradas. Os mecanismos envolvidos para formação da AP estão relacionados ao dano da mucosa intestinal pela hipóxia, gerando passagem de ar do lúmen intestinal para o sistema venoso, há também a translocação bacteriana devido à alteração na permeabilidade da mucosa, com gás na circulação portal pelo metabolismo das bactérias anaeróbias.

RELATO DE CASO

I.O.C, 71 anos, sexo feminino, foi admitida no HRG-TO com queixa de dor abdominal inespecífica há 3 dias, acompanhada de episódios de vômitos; diabética, hipertensa, cardiopata, sem história de doença ou sintomas gastrintestinais prévios. Na admissão, ao exame físico apresentava-se em regular estado geral, normotensa, taquicárdica, afebril, desidratada, abdome globoso com ruídos hidroaéreos diminuídos, doloroso a palpação em hipogástrio. Foi realizado ECG que mostrou: Fibrilação atrial (FA), infra de ST em parede ântero-septal. Exames laboratoriais documentaram significativa leucocitose, proteinúria, glicosúria, enzimas cardíacas sem alterações. A USG realizada constatou apenas presença de gases no abdome. A paciente evoluiu com hipotensão, rebaixamento do nível de consciência, queda da SpO2 e em FA, que foi revertida; após estabilização, foi feita uma TC com contraste. A apresentação clínica era sugestiva de sepse abdominal e as principais hipóteses diagnósticas incluíram pileflebite e IM, além da presença de arritmia ser importante fator de risco (FR) que sustenta o diagnóstico tardio. Hidratação intensa, antiobioticoterapia empírica, anticoagulante e antiarrítmico foram iniciados, mas a paciente continuou evoluindo com piora. A TC de abdome revelou AP e obstrução total da aa. mesentérica superior, a paciente foi então submetida a laparotomia exploradora de emergência, onde a isquemia intestinal foi confirmada e executada extensa ressecção de necrose do intestino delgado + colectomia parcial + enteroanastomose. No dia seguinte, a paciente não resistiu ao choque séptico e foi à óbito.

DISCUSSÃO

Mesmo com pouca literatura sobre o assunto, essa nos mostra que a AP é considerada um sinal de mau prognóstico, e, quando associada à IM, há necrose transmural em 91% dos casos e alta taxa de mortalidade (75%), com maior prevalência em pacientes acima de 50 anos, sexo feminino e com comorbidades cardiovasculares. Após o entendimento dos mecanismos envolvidos no desenvolvimento da AP vinculado ao caso relatado, fica evidente a necessidade da investigação e associação dos FR com a apresentação clínica inicial da patologia de base, sendo este o momento propício para a intervenção cirúrgica com maior probabilidade de alterar positivamente o prognóstico.

Área

MISCELÂNEA

Instituições

Universidade de Gurupi - Unirg - Tocantins - Brasil

Autores

Tatiane Torquato Silva Rodrigues, Kelvin Mendes Carvalho, Wagner Minghini, Rodrigo Costa Carvalho, Raquel Costa Batista Queiroz, Nathalia Tararam Zanetti, Windsor Silveira Brandão Filho, Meire Aparecida Jacinto Gundim