Dados do Trabalho
TÍTULO
FISTULA COLOVESICAL COMO COMPLICAÇAO DA DOENÇA DE CROHN
INTRODUÇÃO
A doença de Crohn (DC) é uma condição inflamatória intestinal, com potencial acometimento de todo tubo digestivo. Cursa com inflamação transmural, podendo evoluir com abscessos e perfuração intestinal, formando fístulas. Neste estudo, relatamos o raro caso de um paciente que apresentou fístula colovesical (FCV) como complicação da DC.
RELATO DE CASO
Homem de 40 anos, tabagista, portador de DC há 18 anos, em tratamento irregular, procurou serviço médico referindo dor intensa em cólica em região suprapúbica e fossa ilíaca esquerda, progressiva há 4 meses, associada a disúria, fezes afiladas e hematoquezia. Posteriormente apresentou pneumatúria. Tomografia de abdome evidenciou abcesso pélvico, entre teto vesical e parede inferior do sigmoide à esquerda, com fístula sigmoidovesical e cálculo em terço distal do ureter esquerdo. À retossigmoidoscopia, foi identificada, em junção retossigmoideana, lesão estenosante, compatível com colite crônica ativa. Ainda, RMN de reto demonstrou fístula entre a parede anterior do sigmoide e a bexiga, confirmada por enterotomografia, a qual demonstrou também estenoses em região ileocecal e cólon transverso. Além do tratamento específico da ureterolitíase e pielonefrite posterior, foi submetido à proctocolectomia total com ileostomia terminal e cistectomia parcial.
DISCUSSÃO
A incidência de FCV em portadores de DC é inferior a 1%, geralmente após 10 anos de curso da doença e com idade média de 30 anos. Os principais sintomas associados são disúria, pneumatúria, infecções urinárias e fecalúria. O diagnóstico é suspeitado clinicamente e confirmado principalmente por tomografia computadorizada e cistoscopia.
Alguns autores recomendam a tentativa inicial de tratamento clínico, mas a correção cirúrgica é a técnica com melhor custo-benefício e eficácia, com taxa de remissão sustentada de 99%.
O paciente relatado apresentava como complicações da DC, não apenas FCV, como também abscesso intra-abdominal, colite em múltiplos segmentos e tumor estenosante do reto. Dado o amplo envolvimento do cólon e a possibilidade de neoplasia retal, foi realizada proctocolectomia total com ileostomia terminal e cistectomia parcial. Não está indicada anastomose ileoanal com bolsa ileal em J na DC, pelo risco de recorrência ou falha da bolsa.
A protocolectomia promove alívio dos sintomas, diminuição do risco de recorrência da doença e prevenção de câncer. Apesar de diminuir a recidiva da doença, há possibilidade de recorrência pós-operatória. Embora nem sempre indicada terapia imunossupressora no pós-operatório de DC, está nesse caso recomendada, por se tratar de um paciente de alto risco de recidiva, considerado o tabagismo e quadro fistulizante.
Sendo assim, a FCV na DC constitui uma complicação rara, com diagnóstico de suspeita clínica e de certeza radiológica, com tratamento ainda eminentemente cirúrgico e seguimento pós-operatório individualizado.
Área
COLOPROCTOLOGIA
Instituições
Universidade de Brasília - Distrito Federal - Brasil
Autores
Louise Cordeiro Polo Mendes, Débora Maria de Carvalho Saraiva, Edison Tostes Faria, Pedro Víctor Sousa Serpa, Daniel da Silva Marques, Sebastião Dutra Morais Junior, Oswaldo Moraes Filho, João Batista Sousa