Dados do Trabalho


TÍTULO

ARTERITE POR CANNABIS APRESENTADA COMO OCLUSAO BILATERAL DA ARTERIA POPLITEA

INTRODUÇÃO

A planta Cannabis sativa é a droga mais comumente usada no mundo. No Brasil, aproximadamente 7,8 milhões de adultos já consumiram maconha pelo menos uma vez.
A arterite por cannabis (AC) corresponde a 1% a 7% dos casos de menor arteriopatia dos membros. É mais frequente em homens e apresenta episódios subagudos paroxísticos de isquemia distal extremamente dolorosos, acometendo principalmente os membros inferiores. Pode ser grave, causando gangrena e levando à amputação, relatados em 25-40% dos pacientes. A principal substância psicoativa da maconha parece inibir a síntese do óxido nítrico.

RELATO DE CASO

Homem de 23 anos, lutador de Muay Thai, admitido por isquemia, lesão trófica em dedo do pé esquerdo e história dor há 8 meses; sem pulsos poplíteo ou distal do lado esquerdo. Foi realizada arteriografia que confirmou oclusão da artéria poplítea e reenchimento da artéria tibial posterior distal esquerda. Assim, suspeitou-se de oclusão por trauma de luta ou ao aprisionamento da poplítea e optamos por realizar um bypass femorotibial posterior com safena reversa. O bypass ocluiu no segundo dia de pós-operatório. Uma amputação coxofemoral foi realizada e o paciente recebeu alta 2 dias após o procedimento. No mês seguinte, o paciente desenvolveu nova isquemia, porém no membro inferior direito, indolor, com fenômeno de Raynauld, sem pulso infrapoplíteo. Portanto, descartamos causa traumática. Foi readmitido para investigação e nova arteriografia mostrou oclusão da artéria poplítea direita infragenicular e reenchimento da artéria fibular próxima ao tornozelo, sem importante circulação colateral. Apenas neste momento, ele relatou ser um usuário de maconha, pelo menos 4 cigarros por dia nos últimos 4 anos. Pela ausência de outros fatores de risco, o diagnóstico de AC foi considerado. O paciente recebeu alta com Rivaroxaban 30mg/dia por 3 semanas e aspirina 100mg/dia com recomendação para parar o abuso de maconha. Em três meses de acompanhamento, o paciente não apresentou dor ou progressão da doença, apresentando ainda o fenômeno de Raynauld, além da abstinência da erva.

DISCUSSÃO

Há poucos casos descritos sobre AC. Muitas vezes, o diagnóstico de AC é confundido com Tromboangeíte Obliterante (TAO), pelo quadro clínico similar. Em contraste com AC, as lesões na TAO estão relacionadas à vascularização distal, lesões ateromatosas proximais e vasos colaterais no TAO estão melhor desenvolvidos. Os vasos colaterais saca-rolhas são comuns no TAO e ausentes na AC. Alguns estudos sugerem que a AC pode ser uma forma específica de TAO.
Devido à apresentação clínica, com o envolvimento das pequenas artérias periféricas, a revascularização cirúrgica geralmente não é satisfatória. O uso de aspirina é recomendado para todos os pacientes, apesar de não ter evidência. Para tratamento da AC é imperativo cessar definitivamente o uso de maconha.

Área

CIRURGIA VASCULAR

Instituições

Universidade Federal do Vale do São Francisco - Pernambuco - Brasil

Autores

Antônio Filipe Neto, Edson Gonçalves Ferreira Júnior, Larissa de Melo Freire Gouveia Silveira, Nayane Carolina Pertile Salvioni, Karen Ruggeri Saad, Paulo Fernandes Saad