Dados do Trabalho


TÍTULO

RELATO DE CASO: RETALHO SURAL DE FLUXO REVERSO

INTRODUÇÃO

Amputação primária é definida como a amputação na admissão, sem tentativa de revascularização; apresentando, desse modo, indicação complexa. Para facilitar a tomada dessa decisão, são utilizadas algumas escalas de gravidade, sendo a mais comum a Escala de MESS (Mangled Extremity Severity Score). O Retalho Sural de Fluxo Reverso (RSFR) é uma importante opção para reconstrução da região distal de pernas e pés, sobretudo, de áreas mais extensas. Em virtude da grande versatilidade que seu pedículo pode atingir, permite um grande arco de rotação para recobrir tais áreas. Diante disso, buscou-se comparar o uso de uma escala de decisão (Escala de MESS) com o uso alternativo do retalho para salvar o membro.

RELATO DE CASO

Masculino, 19 anos, vítima de acidente automobilístico, apresentando lesão traumática em pé direito, com grave laceração da região do calcâneo, foi submetido à cirurgia ortopédica para estabilização das fraturas. Após a alta, retornou para avaliação pós-operatória, na qual foi constatada a necessidade de nova cirurgia para debridamento de tecido necrótico. Após o procedimento, a lesão foi reavaliada, indicando uma possível amputação de região distal do MID (MESS 7 pontos). As equipes de cirurgia vascular, ortopedia e cirurgia plástica optaram pela preservação do membro e reparo da lesão com uso da técnica de RSFR e enxerto. No pós-operatório imediato, o paciente apresentou-se estável e o retalho viável, sendo encaminhado, após alguns dias, para reabilitação fisioterápica. Passados 60 dias do procedimento, o paciente apresentava boa evolução, com uso de muletas e bota ortopédica. Atualmente, mesmo com discreta limitação da mobilidade do tornozelo, o paciente, com 22 anos de idade, deambula sem necessidade de apoio/órtese, sem interferências em suas atividades de vida diária.

DISCUSSÃO

Lesões na região do calcâneo são graves e de difícil reconstrução, devido ao alto grau de especialização dos tecidos envolvidos e proximidade de estruturas nobres, como ossos, tecidos neurovasculares e tendões; sendo a amputação primária bastante empregada nesses casos. A primeira opção para a reconstrução de partes moles do calcâneo deve ser pelo uso de retalhos fasciocutâneos, por proporcionarem uma cobertura cutânea resistente e possuirem um padrão de anatomia vascular bem definido. Entretanto, o reparo vascular com restauração efetiva da circulação, não determina necessariamente o salvamento do membro, tampouco a recuperação funcional em casos muito graves. No caso descrito, a melhor conduta foi a manutenção e reparo do membro através da técnica do RSFR, pois proporcionou um desfecho clínico favorável com preservação do membro e da mobilidade. É necessário o aprimoramento das escalas de avaliação de membro lacerado hoje disponíveis, por não serem suficientemente sensíveis para predizerem o melhor desfecho clínico. A reconstrução do calcâneo através da técnica descrita ainda é pouco utilizada, sendo necessário uma maior casuística para comprovar sua melhor relação risco/benefício.

Área

CIRURGIA PLÁSTICA (Inclusive neoplasias malignas de pele)

Instituições

UFMT - Mato Grosso - Brasil

Autores

Gilvan Luís Gava, Assaad Assaad Naim, Victor Augustho Barbosa, Fábio Henrique Mendonça Oliveira, Carlos Eduardo Rodrigues Lopes, Luiz Antonio Zanotelli Zanella, Romeu Leandro Rotta, Roberson Yukishigue Matunaga