Dados do Trabalho
TÍTULO
FISTULA BILIOPULMONAR NO POS-OPERATORIO TARDIO DE METASTECTOMIA HEPATICA
INTRODUÇÃO
Fístula biliopulmonar consiste na comunicação patológica (congênita ou adquirida) entre o trato biliar e a árvore brônquica ou entre o trato biliar e o espaço pleural. Trata-se de uma condição infrequente, tendo sido relatada pela primeira vez por Peacock em 1850. Num estudo de série de casos (n = 3608) de abscessos subfrênicos, o índice de fístulas broncobiliares foi de 10%. Já num estudo de casos traumáticos, observou-se que 2% a 4% dos traumas hepáticos causaram fístula biliar. O objetivo deste relato é o de oferecer conhecimento adicional para o diagnóstico precoce e melhor conduta em possíveis casos enfrentados de fístulas biliopulmonares.
RELATO DE CASO
Paciente do sexo feminino, 53 anos, no pós-operatório tardio de cirurgia de Whipple e de metastasectomia hepática por tumor neuroendócrino de cabeça de pâncreas, evoluiu com queixa de tosse e expectoração de caráter bilioso. A cirurgia de metastasectomia envolveu os lobos hepáticos VI e VII, ressecção parcial do diafragma e segmentectomia do lobo inferior do pulmão direito. A broncoscopia revelou líquido bilioso nas vias aéreas, enquanto estudo do lavado brônquico evidenciou Esclerichia coli e Klebisiela pneumoniae carbapenemase. Tomografia de tórax mostrou espessamentos pleuroapicais bilaterais, nódulos pulmonares não calcificados, granulomas no lobo inferior direito e coleção de paredes espessadas, captante de contraste com focos gasosos em permeio, na transição toracoabdominal. Sob suspeita de fístula biliopulmonar, foi realizada uma toracotomia direita onde evidenciou-se aderências firmes do lobo inferior com o diafragma, fazendo-se necessário uma segmentectomia do lobo inferior direito. Paciente evoluiu no pós-operatório imediato com expansão pulmonar adequada. No 4° dia, apresentou persistência e aumento de nível hidroaéreo no hemitórax direito associado a febre. Foi feita antibioticoterapia com piperacilina - tazobactam por 14 dias. Três semanas após a cirurgia, exames radiológicos e laboratoriais seriados mostraram persistência de coleção póstero inferior no hemitórax direito. Foi realizada pleurostomia, sem complicações. Com melhora clínica, laboratorial e radiológica, a paciente recebeu alta 7 dias após a pleurostomia.
DISCUSSÃO
A bilioptise é um sinal muito específico para fistula biliopulmonar. Esta, por sua vez, é uma complicação comumente secundária a ressecções hepáticas, cistos hidáticos, abcessos amebianos e neoplasias. As intervenções cirúrgicas, como a realizada neste caso relatado, podem causar lesões e cicatrização nos ductos biliares, ocasionando uma formação de bilioma e abscesso que causa erosão ascendente até o espaço pleural ou parênquima pulmonar. 70% dos casos de fistulização biliopulmonar se resolvem espontaneamente. Porém, nesse caso, não houve melhora e, devido à extensão das alterações radiológicas evidenciadas e da infecção sobreposta, optou-se pela realização do tratamento cirúrgico definitivo e do seguimento clínico até a resolução do quadro.
Área
CIRURGIA TORÁCICA
Instituições
Universidade Federal do Ceará - Ceará - Brasil
Autores
Mayara Rios Camardella da Silveira, Daniel Reis Melo, Giovanni Lucas da Silva Golçalves, Felipe de Oliveira Vasconcelos, Wellyson Gonçalves Farias, Annya Costa Araújo de Macedo Goes, Carlos Márcio Melo de Matos, Newton de Albuquerque Alves