Dados do Trabalho


TÍTULO

CORPO ESTRANHO COMPLICADO EM ESOFAGO CERVICAL

INTRODUÇÃO

A ingestão de corpo estranho (CE) é uma ocorrência comum em serviços de pronto atendimento, considerando-se que em cerca de 80% dos casos ocorra progressão pelo trato gastrointestinal sem intercorrências. Quando alojado no esôfago cervical (EC) a ocorrência de perfuração é pouco frequente (até 2%) porém nesses casos, é mandatório investigar a possibilidade de infeção, pois a disseminação desse processo pode gerar complicações graves, como mediastinite e abcesso cervical.

RELATO DE CASO

A paciente de 36 anos, foi admitida no pronto socorro referindo ter engasgado com uma espinha de peixe há sete dias, relatando inapetência, dor torácica difusa bilateral, odinofagia e vários episódios de febre aferida nesse período. A tomografia computadorizada demonstrou presença de corpo estranho localizado na transição entre hipofaringe e esôfago proximal, com presença de focos gasosos de permeio estendendo-se pela região pré-vertebral inferindo perfuração esofágica e identificou pequena coleção com foco gasoso em seu interior localizada em região proximal. Na endoscopia, foi encontrada uma espinha de peixe logo abaixo do esfíncter cricofaríngeo e que transfixava as duas paredes do esôfago. Após a retirada do CE foram identificados dois orifícios, de cerca de 0,7 cm e 1 cm, com sinais de inflamação e drenando secreção purulenta, sendo realizada passagem de sonda nasoenteral. A paciente foi tratada ciprofloxacina e clindamicina e evoluiu bem, sendo realizada endoscopia sete dias depois que mostrou as duas lesões cicatrizadas

DISCUSSÃO

O esôfago é um órgão de íntima relação anatômica com estruturas vitais do corpo humano, como a traqueia, as artérias carótidas e a aorta. Posteriormente ao EC situam-se o espaço retrofaríngeo e o espaço alar ou espaço perigoso (danger space), que são vias de disseminação de infecções para o mediastino. Perfurações de esôfago cervical podem ser causa de mediastinite, levando a uma mortalidade de cerca de 68 %. No presente caso, o CE pontiagudo ficou impactado no EC por longo período e causou quadro infeccioso com sério risco para a vida da paciente. A mesma relatou que a espinha era de Dourado, um peixe ósseo, cujo esqueleto pode ser altamente cortante. Há vários casos na literatura relatando perfuração esofágica por espinhas de peixe e as complicações causadas por esse acidente, ressaltando a necessidade do rápido diagnóstico e tratamento desses pacientes.

Área

URGÊNCIAS NÃO TRAUMÁTICAS

Instituições

Disciplina de Gastroenterologia Cirúrgica – Departamento de Cirurgia - Escola Paulista de Medicina - UNIFESP - São Paulo - Brasil

Autores

Pedro Norton Gonçalves Dias, Martin Castiglia, Diego Adão Fanti-Silva, David Carlos Shigueoka, Fernando Herbella, Ramiro Colleoni, Milton Scalabrini