Dados do Trabalho
TÍTULO
INGESTAO INTENCIONAL E RECORRENTE DE CORPOS ESTRANHOS: RELATO DE CASO
INTRODUÇÃO
A ingestão intencional e recorrente de corpos estranhos (CE) é uma situação complexa e rara, geralmente relacionada a distúrbios psiquiátricos, exigindo uma abordagem multiprofissional para seu tratamento. Entre as doenças psiquiátricas envolvidas com esse comportamento pode-se citar transtorno de personalidade borderline, transtorno obsessivo compulsivo, psicose e depressão maior. Pode ser caracterizado como um meio de auto injúria, comportamento suicida ou transtorno alimentar. A refratariedade ao tratamento gera grande frustração na equipe de saúde envolvida. Outro fator agravante é que os pacientes podem insistir nesse comportamento como atitude manipuladora.
RELATO DE CASO
Paciente do sexo feminino, 29 anos, fazendo acompanhamento psiquiátrico por quadro de personalidade borderline, apresentando histórico de distúrbio alimentar desde 2009, evoluindo com abuso de medicações psicoativas e outras substâncias, passou a ingerir intencional e repetidamente objetos, em sua maioria pontiagudos. Faz uso irregular das medicações (olanzapina, quetiapina, topiramato, sertralina e prometazina) e vem frequentemente ao pronto-socorro do Hospital São Paulo. No período de janeiro de 2011 até dezembro de 2018 foram registrados 327 atendimentos apenas no serviço de emergência motivando 23 internações (1 a 14 dias). A ingestão de corpos estranhos motivou a realização de 213 endoscopias digestivas altas, uma colonoscopia, 549 exames radiográficos e 11 tomografias computadorizadas. Nas endoscopias foram identificados 176 corpos estranhos: 68 no esôfago, 99 no estômago e nove no duodeno. Destes objetos, 149 eram pontiagudos (talheres, caneta, maquiagem, agulha de crochê, vidro, etc.), 20 eram rombos e sete não foram discriminados. Quando não foi identificado CE na endoscopia, mas estando presente no exame de imagem, optou-se pela observação até sua eliminação espontânea. No nosso serviço foi submetida à duas intervenções cirúrgicas por complicações do CE: uma cervicotomia e uma cervicotomia com toracotomia. Observamos que o número de endoscopias por período parece ser cíclico, ocorrendo intervalos maiores ou menores dependendo provavelmente da piora do estado mental. Pelos mesmos motivos, a paciente também frequenta outros serviços de emergência na região metropolitana de São Paulo, realizando inúmeros exames endoscópicos e tendo sido submetida à duas laparotomias para retirada de CE.
DISCUSSÃO
Há relatos de casos semelhantes na literatura, destacando a falta de protocolos bem definidos para manejo desses pacientes, a refratariedade ao tratamento convencional (medicações, psicoterapia e até eletroconvulsoterapia), os altos custos hospitalares e as potenciais complicações associadas à ingestão de objetos perfurocortantes
Área
URGÊNCIAS NÃO TRAUMÁTICAS
Instituições
Setor de Endoscopia Digestiva - Disciplina de Gastroenterologia Cirúrgica – Departamento de Cirurgia - Escola Paulista de Medicina - UNIFESP - São Paulo - Brasil
Autores
Pedro Norton Gonçalves Dias, Shaira Noventa, Barbara F Nadaleto, Tárcia Nogueira Ferreira Gomes, Marileni Kogempa, Elmar Silva Cardim, Milton Scalabrini, Ramiro Colleoni