Dados do Trabalho


TÍTULO

COLECISTITE AGUDA ALITIÁSICA ASSOCIADA A INFECÇÃO PELO CITOMEGALOVÍRUS E VASCULITE LÚPICA

INTRODUÇÃO

Colecistite aguda alitiásica (CAA) é uma forma pouco comum de colecistite aguda, representando entre 5 e 12% dos casos, e mais provável no contexto de doenças sistêmicas graves, o que dificulta seu diagnóstico já que as suas manifestações clínicas - i.e. febre, icterícia e desconforto abdominal - têm amplo diagnóstico diferencial em pacientes críticos. Dessa forma, um elevado índice de suspeição é necessário para o diagnóstico precoce dessa moléstia e introdução terapêutica mais adequada à gravidade do quadro. Neste relato, apresentamos o caso de uma paciente lúpica que apresentou CAA associada a pancreatite aguda e infecção por CMV.

RELATO DE CASO

Mulher de 28 anos, portadora de lúpus eritematoso sistêmico (LES) com doença renal crônica dialítica apresenta-se ao pronto-atendimento com dor abdominal difusa havia três meses, náuseas e diarreia espumosa havia dois meses e fezes escurecidas havia quatro dias. O exame físico era normal exceto por dolorimento leve, inespecífico à palpação com descompressão brusca negativa. USG de abdômen total evidenciou vesícula hipodistentida apesar de jejum adequado, com paredes espessadas e líquido perivesical, sem cálculos. Foi feita a hipótese de colecistite aguda perfurada, e a paciente foi submetida a colecistectomia aberta no dia seguinte, sem intercorrências e recebeu alta 5 dias depois. O laudo anatomopatológico da peça cirúrgica evidenciou colecistite crônica com vasculite necrotizante de médios vasos não granulomatosa, que no contexto da paciente poderia corresponder a vasculite lúpica.

10 dias após alta, a paciente retornou ao pronto-atendimento mantendo queixa de dor e fezes líquidas. Apresentava anemia normocítica com leucocitose, sem desvio à esquerda, plaquetopenia, sódio e potássio normais, cálcio total reduzido, transaminases normais, lipase ligeiramente elevada, ureia, creatinina e VHS elevados. No dia seguinte, lipase manteve-se estável e VHS elevou-se ainda mais. No sexto dia de internação, num ressurgimento da dor abdominal, dosagem de amilase e lipase estavam aumentada, caracterizando pancreatite aguda. TC de abdômen mostrou espessamento de alças, tendo sido feita a hipótese de colite isquêmica por vasculite lúpica ou colite por CMV. Pesquisa de ANCA foi negativa, e pesquisa de DNA de CMV foi positiva no sangue, mas negativa em biópsia, não sendo possível fechar diagnóstico diferencial entre essas duas entidades. No décimo-sexto dia de internação evoluiu com hipercalemia e, durante a sessão de hemodiálise, sofreu parada cardiorrespiratória e veio a óbito.

DISCUSSÃO

CAA é entidade mais comum em pacientes graves e de difícil diagnóstico devido à ausência de achados laboratoriais ou de imagem de confirmem o quadro bem como à confusão dos sintomas com o quadro clínico de base. O LES em especial é uma entidade clínica em que a CAA é diagnóstico diferencial importante de quadros abdominais quer pela possibilidade de vasculite lúpica, quer por infecções propiciadas pela imunossupressão.

Área

URGÊNCIAS NÃO TRAUMÁTICAS

Instituições

EPM/UNIFESP - São Paulo - Brasil

Autores

Felipe AZEVEDO Jacob, João Manoel Silveira Lara, Diego Adão Fanti Silva, Vanessa Elmir Arida, Ricardo Artigiani-Neto, Edgar Torres Reis Neto, Ramiro Colleoni