Dados do Trabalho
TÍTULO
AS COISAS QUE DEVO MUDAR – UMA REFLEXAO SOBRE RAÇA, ETICA E O LEGADO DE MARION J. SIMS
OBJETIVO
Realizar uma revisão da literatura com uma perspectiva histórica e análise crítica sobre os aspectos éticos envolvidos na criação da técnica de reparo da fístula vesico-vaginal, tendo em vista a experimentação em mulheres negras escravizadas.
MÉTODO
Realizou-se uma revisão de literatura, na qual foram selecionados artigos, de 2001 a 2018, nas bases de dados SciELO, PubMed e EBSCO, buscando compreender e causar reflexões sobre as implicações éticas relativas aos experimentos de Marion J. Sims no aperfeiçoamento da cirurgia corretiva da fístula vesicovaginal. Os descritores utilizados foram: Fístula vesicovaginal, cirurgia, história e Marion Sims.
RESULTADOS
Considerado o “pai da ginecologia moderna”, Marion J. Sims (1813-1883) foi o criador de várias técnicas e instrumentos e o grande responsável pelo sucesso do tratamento cirúrgico da fístula vesicovaginal, por meio de suas experiências cirúrgicas em mulheres negras escravizadas do Alabama, na década de 1840. As mulheres tratadas por Sims – Anarcha, Betsey, Lucy e tantas outras – desenvolveram fístulas dolorosas. Cada uma dessas mulheres passou por até 30 procedimentos cirúrgicos em 4 anos, o que permitiu que ele refinasse sua técnica. Para alguns médicos daquela época, o corpo negro era visto como mais insensível à dor e mais tolerante aos trabalhos pesados.
Na história da medicina, muitas histórias cruzam a linha do que é considerado ético em relação às diferentes etnias e suas supostas diferenças, reforçando a segregação com argumentos biológicos. No início do século 20, por exemplo, quando as taxas de câncer pareciam ser menores na população negra, experts passaram a falar sobre “imunidade da raça negra” e “susceptibilidade branca”, conceitos que implicam em disparidades no atendimento e no cerceamento de espaços de cuidado que deveriam ser abertos à população como um todo.
O grande questionamento que a controvérsia protagonizada por Sims é: qual narrativa deve ser valorizada? Devemos focar no progresso e nas descobertas médicas ou nas circunstâncias nas quais estas descobertas foram feitas? Devemos repensar nossos heróis, em face dos métodos utilizados por eles? Podemos julgar homens como o Dr. Sims não pelos padrões de seu próprio tempo, mas do nosso? Podemos simplesmente ignorar a discussão e classificá-la como obsoleta nos tempos modernos?
CONCLUSÕES
Mesmo com as inovações no quesito da regulamentação de experimentos em seres humanos e adaptações dos códigos de ética e a disseminação de conhecimento científico, as questões de raça e medicina não se tornaram obsoletas. A compreensão de que ainda hoje a etnia influencia nas tomadas de decisões médicas pode ajudar a diminuir o efeito dessa discriminação na sociedade como um todo.
Área
MISCELÂNEA
Instituições
Centro Universitário de Brasília - UniCEUB - Distrito Federal - Brasil
Autores
Bruna Camila Rufino Gualberto Brito, João Vitor Vilar Silveira, Karoline Laurentino Lopes Pinto, Tiago Couto Silva Pinheiro Chaves, Vitor Bittar Prado, Jordano Pereira Araujo