Dados do Trabalho


TÍTULO

SINDROME DE MIRIZZI IMITANDO COLANGIOCARCINOMA

INTRODUÇÃO

A Síndrome de Mirizzi (SM) é uma condição rara, caracterizada por uma inflamação aguda ou crônica secundária a um cálculo grande e único ou a pequenos e múltiplos cálculos, impactados no infundíbulo da vesícula ou no infundíbulo juntamente com o ducto cístico, causando uma obstrução mecânica do ducto hepático comum.
Mesmo que a síndrome tenha baixa incidência, os cirurgiões devem tê-la em mente como um diagnóstico diferencial para colangiocarcinoma, para um possível diagnóstico pré-operatório e melhor tratamento do paciente de modo a evitar lesão desnecessária da vesícula.

RELATO DE CASO

Paciente do sexo feminino, 51 anos, apresentou-se no ambulatório com quadro de icterícia e perda ponderal de 6kg há 2 semanas.
Em ultrassom abdominal foi visto dilatação das vias biliares intra-hepáticas, presença de litíase biliar e dilatação do colédoco. Em seguida, foi realizada CPRE, em que se observou processo expansivo que comprometia o ducto hepático comum proximal, sendo introduzido um implante de prótese biliar por meio desse procedimento. Na tomografia realizada em seguida, foi visto dilatação de vias biliares intra-hepáticas e vesícula biliar hipodistendida com calcificações parietais.
Após os exames, foi dada a hipótese diagnóstica de colangiocarcinoma Bismuth tipo II e programada a cirurgia. Realizou-se ressecção cirúrgica das vias biliares, linfadenectomia de peri-hilar e anastomose hepatico-jejunal em Y de Roux, com envio de peça para congelação e biópsia. Durante a cirurgia, não foi observada nenhuma lesão característica de implante secundário em órgãos ou peritônio. A peça em congelação não evidenciou suspeita de malignidade em ducto proximal ou distal, apenas inflamação crônica, sugerindo o diagnóstico de SM.
O pós-operatório decorreu sem intercorrências, recebendo alta hospitalar. O resultado da biópsia confirmou o correto diagnóstico de SM.

DISCUSSÃO

As taxas de SM descritas são de 4,7 a 5,7% nos países subdesenvolvidos. Raramente ela é identificada em seu início, resultando em morbidade e danos biliares. Mais de 50% dos pacientes com essa síndrome são diagnosticados durante a cirurgia, de 8-62,5% dos pacientes recebem diagnóstico pré-operatório, sendo que 6-28% desses, tinham, na verdade, câncer de vesícula biliar.
Não há características clínicas para distinguir a SM do câncer de vesícula, ambas se apresentam com quadro de icterícia obstrutiva, acompanhada por dor abdominal no hipocôndrio direito, e febre em pacientes com suspeita ou comprovada colelitíase, exceto que os pacientes com colangiocarcinoma são, geralmente, uma década mais velhos. Assim, durante a cirurgia, a biópsia por congelação deve ser realizada em todos os pacientes com MS para descartar definitivamente o colangiocarcinoma.
Desse modo, nota-se a importância de conhecer diagnósticos diferenciais e apresentações para melhor conduta e sucesso cirúrgico.

Área

VIAS BILIARES E PÂNCREAS

Instituições

ISCMSP - São Paulo - Brasil

Autores

Gabriel Lorente Mitsumoto, Mauricio Alves Ribeiro, Lucas Augusto Monetta da Silva, Marina Martins Tocchio, Nátalie Emy Yvamoto, Talita Di Santi, Caroline Petersen da Costa Ferreira, Luiz Arnaldo Szutan