TÍTULO

ACOMPANHAMENTO DE LONGUISSIMO PRAZO DE PACIENTE USANDO SORAFENIBE: 9 ANOS E CONTANDO

INTRODUÇÃO

O carcinoma hepatocelular (CHC) é o principal subtipo de tumor primário maligno do fígado, representando 85-90% do total, com incidência anual de 782.000 novos casos, sendo responsável por 600.000 mortes ao ano, o que demonstra a agressividade da doença.
Em 2007, o sorafenibe foi aprovado para o tratamento de CHC avançado, baseado nos estudos SHARP e Asia-Pacific, sendo o tratamento de primeira linha para CHC irressecável.
O estudo SHARP demonstrou aumento na sobrevida global (SG) de 7,9 para 10,7 meses e o Asia-Pacific apresentou SG menor, de 4,2 para 6,5 meses. Ou seja, o aumento de SG foi modesto, cerca de dois a três meses apenas.

RELATO DE CASO

Paciente do sexo masculino, 42 anos, apresentou-se ao ambulatório da oncologia com o diagnóstico de CHC multiforme Child-Pugh 5A por cirrose hepática alcoólica. Apresentava sorologias negativas. Paciente referia que há 01 ano sentia desconforto abdominal, dor em hipocôndrio direito, com antecedente de etilismo com 2-3 garrafas de cerveja por dia por dez anos. Realizou tomografia, no qual foi identificada lesão hepática com múltiplos cistos e trombose de veia porta, sendo referido para biópsia, quando foi feito o diagnóstico de CHC multiforme. Paciente apresentou perda ponderal de 4 Kg neste ano.
Paciente foi classificado incialmente como BCLC-C, CHC irressecável, e, portanto, indicado sorafenibe de acordo com o guideline de Barcelona.
Foi prescrito inicialmente sorafenibe 400 mg/dia, tendo sua dose aumentada para 800 mg/dia após um mês, pois permaneceu assintomático. O valor inicial da alfa-fetoproteína era de 5 UI/mL.
Paciente teve um aumento muito lento, mas progressivo, do marcador, atingindo valor máximo de 68,1 UI/mL, porém sempre permanecendo praticamente assintomático. No último ano, os valores voltaram a declinar.
O paciente realiza tomografia de controle anualmente; todas mostram estabilização da doença. Atualmente o paciente permanece assintomático, com progressão lenta da doença.

DISCUSSÃO

Em levantamento de todos os pacientes com CHC que utilizaram sorafenibe em nosso serviço, o tempo médio de SG foi de cerca de 16,8 meses. Em um estudo brasileiro, o tempo de SG com sorafenibe foi de cerca de 16,3 meses. Em outro estudo brasileiro, a SG média dos pacientes tratados com sorafenibe foi de 32,5 meses.
No mesmo levantamento realizado em nosso serviço, outros dois pacientes continuam a utilizar o sorafenibe por mais de três anos.
Uma grande parcela dos doentes consegue manter o sorafenibe por mais de 28 semanas, sugerindo que pacientes que conseguem manter tratamento além do período inicial, estão aptos a continuar subsequentemente por longos períodos, reforçando a importância do manejo de efeitos adversos nas primeiras semanas de tratamento.
O prognóstico do CHC ainda não é totalmente esclarecido e essencialmente depende do estádio do tumor e da gravidade da doença hepática. O caso reportado, bem como os outros dois casos com mais de três anos, sugere que o sorafenibe poderia fornecer benefícios atípicos.