TÍTULO

APLICAÇAO DA LAPAROSCOPIA NO TRAUMA COM O OBJETIVO DE REDUZIR A INCIDENCIA DE LAPAROTOMIAS

OBJETIVO

As laparotomias não terapêuticas ocorrem em até 30% dos traumas contusos, resultam em algum tipo de morbidade em cerca de 20%, e levam ao óbito em até 5% dos casos. Ainda, há um potencial risco de 3% de obstrução intestinal futura decorrente dessa exploração desnecessária. No caso do trauma penetrante, alguns estudos mostram taxas de até 60% de laparotomias não terapêuticas, com uma morbidade de até 40%. A laparoscopia é um método minimamente invasivo que pode ser utilizado em pacientes hemodinamicamente estáveis e sem trauma cranioencefálico grave. Apesar do potencial diagnostico e terapêutico dessa abordagem, poucos centros utilizam a laparoscopia nos pacientes traumatizados seja por falta de recursos, por limitações técnicas, ou pelo risco de complicações e lesões despercebidas. Este trabalho tem o objetivo de avaliar a aplicação da laparoscopia em vítimas de trauma contuso ou penetrante na redução da incidência de laparotomias exploradoras, e a segurança dessa abordagem.

MÉTODO

Trata-se de um estudo retrospectivo avaliando vítimas de trauma submetidas a abordagem laparoscópica entre Março de 2010 e Março de 2018. Foram coletados dados demográficos, de mecanismo e de gravidade do trauma, perioperatórios e de tempo de internação. As complicações foram avaliadas de acordo com a classificação de Clavien-Dindo modificada para cirurgia de emergência. As laparoscopias foram classficadas em diagnósticas negativas, diagnósticas positivas e terapêuticas. O índice de conversões, o de lesões despercebidas e a taxa de laparotomias evitadas foram determinados.

RESULTADOS

Foram incluídos 128 pacientes neste estudo. Cento e três são do sexo masculino (80,4%) e 70 casos (54,7%) são de trauma penetrante. Os mecanismos mais frequentes foram ferimento por arma branca (40%), acidente automobilístico (25%), ferimento por arma de fogo (15%) e atropelamento (11%). A mediana de RTS e de ISS foram, respectivamente, 7,84 e 13, tanto para trauma contuso como para penetrante. O TRISS médio dos traumas contusos foi 94% e 83%, dos penetrantes. As indicações mais prevalentes de abordagem laparoscópica foram ferimentos toracoabdominais (28%) e a presença de líquido livre sem lesão de víscera maciça (27%). Houve 94 (73,5%) laparoscopias positivas, das quais 42 (44,6%) foram terapêuticas e 26 (27,7%), não terapêuticas. Apenas doze casos (9,3%) foram convertidos para laparotomia exploradora, e as razões mais comuns de conversão foram dificuldade técnica (33%) e a presença de hemoperitônio moderado/grande (33%). Houve 8 casos (6,2%) de complicações Clavien-Dindo maior ou igual a 3 e apenas um caso de lesão despercebida, que não exigiu reoperação.

CONCLUSÕES

A abordagem laparoscópica vítimas de traumatismo evitou uma laparotomia exploradora em 92%dos casos, com uma baixa incidência de complicações relevantes e apenas um caso de lesão despercebida. Dessa forma, a utilização da laparoscopia em casos selecionados permite evitar laparotomias exploradoras, mantendo um perfil de segurança satisfatório.