Dados do Trabalho


TÍTULO

FALSO ABDOMEN AGUDO CIRURGICO: APENDICECTOMIA REALIZADA EM PACIENTE COM FEBRE TIFOIDE

INTRODUÇÃO

Sabe-se que nem todo abdômen agudo é cirúrgico. Tabes dorsalis, saturnismo, herpes zoster, infarto agudo do miocárdio são alguns exemplos de condições clínicas que podem cursar com sintomas que se confundem com apendicite, úlcera perfurada ou até colecistite. Desta forma, devemos estar atentos para os diagnósticos diferenciais.

RELATO DE CASO

RAHG, 22 anos, estudante, natural do Panamá, com história de viagem no último mês para El Salvador. Comparece ao Serviço de Emergência no Rio de Janeiro/RJ com relato de febre alta (picos de até 40°), dor abdominal pior em fossa ilíaca direita e episódios diarreicos iniciados há cerca de 7 dias. Realizada Tomografia Computadorizada de torax e abdome, com visualização de aumento do calibre do apêndice e ascite, além de infiltrado algodonoso em bases pulmonares. Exames laboratoriais não apresentava leucocitose, mas havia importante desvio para esquerda e aumento da PCR. Avaliado pela equipe da cirurgia Geral que opta por realização de laparotomia exploradora. Inventário de cavidade revela líquido livre em cavidade apêndice aumentado compatível com apendicite grau I e fígado de aspecto normal. Realizada apendicectomia. Evolui no pós-operatório com importante quadro de taquidispneia, sendo realizado nova tomografia de tórax que revela derrame pericárdico e consolidação sugestiva de pneumonia. Exames laboratoriais evoluem com plaquetopenia, leucopenia com importante desvio para esquerda, aumento das transminases e bilirrubinas com predomínio de direta. Iniciado antibioticoterapia de largo espectro com Meropenem, azitromicina, linezolida e micafungina. Realizado sorologias para HIV, hepatites A, B, C; dengue, chikungunya, citomegalovírus, todas resultaram negativas. Pesquisa para leptospirose, malária, porfiria, riquetsiose negativas. Pesquisa de fator reumatoide, C3, C4, T4, TSH, ANCA, negativas; bem como primeiro set de hemoculturas. Novas amostras de hemoculturas colhidas resultaram no isolamento da Salmonella typhi multissensível. Fechado diagnóstico de Febre tifoide. Antibioticoterapia escalonado para Ceftriaxone. Paciente permanecerá em acompanhamento por 180 dias, com necessidade de realização de coproculturas seriadas. Sem indicação de colecistectomia profilática no momento.

DISCUSSÃO

O diagnóstico de qualquer condição patológica abdominal não pode ser baseado apenas na dor. O quadro clínico completo com avaliação de demais sintomas aliado com os sinais presentes no exame físico, além dos exames complementares são importantes na determinação da etiologia do abdome agudo. Tenha os diagnósticos diferenciais de dor abdominal em mente, saiba que falso abdome agudo é uma realidade e pondere outras possibilidades antes de fechar determinado diagnóstico etiológico. Reduzir a quantidade de falsos positivos implicará na realização de menos laparotomias brancas, e, como efeito, permitirá a redução do tempo de internação e dos gastos com a internação, bem como das chances de se evoluir com complicações pós-operatórias.

Área

COLOPROCTOLOGIA

Instituições

HOSPITAL NAVAL MARCÍLIO DIAS - Rio de Janeiro - Brasil

Autores

CAROLINE MAFRA DE CARVALHO MARQUES, LUCAS ALLAN RIBEIRO PORFÍRIO, RICARDO DUARTE SIMÕES, CAIO CESAR LOPES BORGA, LUIZ TADEU RIGUETE PETRUCCI, ANDRÉ DE SIMONE FAINSTEIN, RICARDO SILVA GUIMARÃES