TÍTULO

ABDOME AGUDO ATIPICO POR TORÇAO OVARIANA ANEXIAL

INTRODUÇÃO

A torção ovariana é uma importante causa de abdome agudo em mulheres em idade fértil, apesar da sua baixa incidência - responsável por 3% de todos os procedimentos cirúrgicos, a quinta emergência ginecológica mais comum, afetando mulheres em idade reprodutiva. É considerado diagnóstico diferencial de gravidez ectópica, apendicite aguda, doença inflamatória pélvica, ruptura de cisto ovariano, litíase de vias urinárias e abcesso tubo ovariano. A fisiopatologia ainda não é bem esclarecida, no entanto, acredita-se que ocorra o estrangulamento dos pedículos ovarianos causando prejuízo ao fluxo sanguíneo venoso, seguido pelo arterial acarretando isquemia e necrose hemorrágica. Associa-se, usualmente, com as neoplasias císticas, cistos hemorrágicos, mobilidade aumentada das trompas de falópio, exercícios intensos e mudanças bruscas nas pressões intra-abdominais.

RELATO DE CASO

Paciente, 23 anos, sexo feminino, deu entrada na UPA com quadro de dor abdominal intenso, progressivo em todos os quadrantes, com irradiação para ombro e dorso. Relatava que a dor havia iniciado há 6 horas associada a vômito, diarreia e vertigem, não havendo melhora com uso de analgésicos e espasmolíticos. Paciente encontrava-se pálida (+++/4+), taquicárdica, taquipneica e PA 80x60 bpm. Foram prescritos analgesia, espasmolíticos e hidratação, não havendo melhora. Foi transferida ao hospital local para avaliação de suspeita de abdome agudo e realização de exames laboratoriais e de imagem. Na USG intra-abdominal identificou-se líquido livre de moderada quantidade em cavidade abdominal e TC abdominal confirmou aumento de volume do ovário esquerdo, estroma central sem folículos e detecção de hemorragia parenquimatosa ovariana com presença de infarto hemorrágico. Com base nesses achados dos exames de imagem, a paciente foi transferida ao centro cirúrgico para realização de laparotomia exploradora com raqui anestesia, seguida de ooforectomia esquerda e aspiração da hemorragia na cavidade abdominal. A paciente necessitou de transfusão de três bolsas de sangue (O+) durante o procedimento.
Teve boa evolução, sem intercorrências durante o pós-operatório e recebeu alta após dois dias.

DISCUSSÃO

A torção ovariana é uma entidade emergencial de difícil diagnóstico devido sua sintomatologia inespecífica, o que acarreta muitas vezes em condutas inadequadas e erros diagnósticos. A demora na sua identificação está associada a danos irreversíveis para a paciente como perda da tuba uterina, ovário e infertilidade. O conhecimento clínico e destreza em estabelecer uma conduta podem prevenir estas temidas complicações no contexto de uma torção de ovário, importante e subestimada emergência cirúrgica.