Dados do Trabalho


TÍTULO

TRAUMA PERFURANTE CERVICAL: UM RELATO DE CASO E NOVAS PERSPECTIVAS SOBRE O MANEJO

INTRODUÇÃO

O trauma cervical perfurante representa somente 1% de todos os traumas que chegam a um hospital, desses casos, 20% envolvem dano vascular. Esse trabalho visa discutir esse trauma, que é infrequente em plantões, possui uma taxa importante de mortalidade de até 10% e se constitui num desafio para o cirurgião geral. Realizamos uma revisão de literatura que buscou aplicar a medicina baseada em evidências no manejo de traumas cervicais, com a proposta de novos algoritmos de tratamento. É importante atualizar conceitos, e reconsiderar abordagens, a fim de melhor aproveitar recursos do serviço no qual o cirurgião está e melhor gerir seu tempo dentro de um setor de traumas.

RELATO DE CASO

Homem de 32 anos, vítima de múltiplas perfurações por arma branca. Ao exame físico, apresentava as lesões em dorso de tórax à direita e em região cervical esquerda em zona II com evidente penetração de músculo platisma e discreto escape aéreo pela lesão cervical. O paciente estava consciente, taquicárdico, hipocorado com pulso filiforme. Escala de Glasgow 15, pupilas isocóricas e fotorreativas.
Foi então submetido à cervicotomia lateral esquerda exploratória, que identificou lesão transfixante sangrante e volumosa de veia jugular interna e lesão puntiforme de traqueia em região lateral esquerda. Realizada ráfia com pontos contínuos em lesão venosa e traqueostomia. Após o procedimento o paciente se permaneceu estável. Recebeu alta médica no quarto dia pós-operatório e ATB por 6 dias.

DISCUSSÃO

O trauma cervical perfurante representa apenas 1% dos casos de trauma nos EUA, que por definição compromete a integridade do músculo platisma. Por menor que seja o número de casos nos centros de trauma, grande deve ser a atenção para o assunto, visto que muitas estruturas vitais são envolvidas, lesões cervicais perfurantes podem ter uma mortalidade de 3 até 10%. Em 50% dos casos a morte se dá devido à hemorragia que segue o dano vascular sofrido.
Tradicionalmente, a avaliação de pacientes estáveis hemodinamicamente que não apresentavam nenhum “hard signs” de lesão foi baseada na divisão em zonas, descrita por Roon e Christensen em 1979. Assim, todos os casos de trauma perfurante que atinjam a zona II, do pescoço eram imediatamente encaminhados para a cervicotomia exploratória. No entanto, hoje se observa que essa abordagem não é eficiente, pelos procedimentos muito invasivos que ela propõe. Em um estudo prospectivo, 80% dos pacientes passaram por um procedimento cirúrgico desnecessariamente. Métodos de imagem modernos permitem uma triagem melhor do paciente que proporciona uma diminuição do custo e do tempo de internação do paciente, de 5.1 dias para 1.5, por evitar uma cervicotomia não-terapêutica.
Nosso trabalho visa propor uma abordagem contemporânea que não trata a região cervical como dividida em zonas, mas como um todo. Dando preferência a manejos menos invasivos e baseando a indicação cirúrgica em exames de imagem como a angio TC, na ausência de qualquer “hard signs” de lesão vascular ou de via aérea.

Área

TRAUMA

Instituições

UnB - Distrito Federal - Brasil

Autores

Murillo Nasser Rayol Silva, João Victor Cândido Luz, Renan Shodi Kuramoto Sado