Dados do Trabalho
TÍTULO
RESSECÇAO DE MALFORMAÇAO ARTERIOVENOSA EM CRIANÇA COM QUADRO DE HEMORRAGIA CEREBELAR
INTRODUÇÃO
Acidentes vasculares encefálicos (AVE) pediátricos são raros, sendo causa de morte e prejuízo funcional. Ocorrem por bloqueio focal de fluxo sanguíneo cerebral, sendo classificados em AVE isquêmico agudo ou hemorrágico, com diversos diagnósticos diferenciais que exigem alto grau de investigação clínica. O AVE hemorrágico (AVEH) é mais raro em crianças, causado principalmente por malformação arteriovenosa (MAV), com incidência de 1/100.000. O objetivo deste relato é descrever um caso de AVEH em uma criança de 9 anos portadora de MAV cerebelar submetida a microcirurgia de dissecção da malformação.
RELATO DE CASO
H.L.P, 9 anos, feminino, apresentou cefaléia de forte intensidade há 5 dias, de caráter progressivo, associada a vômitos e astenia, com quadro febril no início. Nega convulsões, síncopes, confusão mental, tontura, traumas ou outras queixas. Ausência de sinais meníngeos. Apresentava PA 111x76 mmHg, e evoluiu com afasia motora, ataxia axial e apendicular. A TC de crânio com contraste apresentou área espontaneamente hiperdensa, de contornos irregulares, medindo cerca de 3,8x2,8x4cm, envolvendo a porção superior dos hemisférios cerebelares, compatível com componente hemático, associada a edema do parênquima adjacente, com sinais expansivos caracterizados por apagamento dos sulcos entre as fissuras cerebelares e deslocamento anterior da ponte e do bulbo. Realizou angiografia cerebral que revelou presença de MAV cerebelar direita nutrida por ramos da artéria cerebelar superior direita e com veias de drenagens ao seio reto e transverso. Após tratamento conservador com melhora de algumas funções, foi realizada microcirurgia para ressecção da MAV que comprometia os lóbulos culmen e declive do vermis cerebelar. A paciente foi submetida a acesso supracerebelar-infratentorial em posição sentada. Procedimento transcorreu sem intercorrências.
DISCUSSÃO
O AVEH em crianças pode ocorrer devido a tumores cerebrais, doenças hematológicas, hemangiomas cavernosas, infecções, vasculopatias e, principalmente, MAVs: malformações vasculares entre as artérias primitivas e veias do cérebro desenvolvidas durante o primeiro trimestre de gestação. Podem estar presentes ao nascimento, sendo 10-20% sintomáticas durante a infância. Trauma ou puberdade podem estimular seu crescimento e não há regressão espontânea. Atualmente, há 3 principais opções de tratamento da MAV: microcirurgia, radiocirurgia e terapia endovascular, com a microcirurgia de ressecção total permanecendo como tratamento de escolha para lesões pequenas em áreas sem grande expressividade. No caso relatado, a paciente apresentou MAV da fossa posterior, que representa 7-15% de todas as MAVs intracranianas, sendo as de cerebelo as mais comuns desse grupo. Estas possuem taxa de sangramento de 60-86%, quase duas vezes mais propensas a apresentar hemorragias quando comparadas às supratentoriais. São descritas taxas de ressecção total de até 92%, com bons resultados funcionais em 80-91%.
Área
CIRURGIA PEDIÁTRICA
Instituições
UniCEUB - Distrito Federal - Brasil
Autores
Livia Novaes Teixeira , Ana Clara Guerreiro Araújo de Gouvêa, Thiago Henrique Queiroz de Oliveira, Lorayne Ugolini Santana, Talita Trindade França, Maria Lourdes Jaborandy Paim da Cunha