Dados do Trabalho
TÍTULO
GASTROSQUISE E SEUS DESAFIOS NA CORREÇAO CIRURGICA PRIMARIA E NA PREVENÇAO DE SEPSE
INTRODUÇÃO
A gastrosquise é uma malformação congênita bastante incomum na parede anterior do abdome, com herniação de vísceras não recobertas por membrana. Sua patogênese ainda é pouco clara, possuindo diferentes teorias. Nos últimos 15 anos, sua incidência tem aumentado (PALMER et al., 2013), cerca de 1 a cada 5000 recém-nascidos, sugerindo o envolvimento de fatores ambientais (LOANE, 2007), contudo ainda existe pouca literatura registrada a respeito dessa malformação (COCHRANE, 2013).
RELATO DE CASO
Recém-nascido (RN) de D.G.R (25 anos), parto cesárea, à termo (37 semanas), sexo masculino, 2.495 kg, 47,5 cm, Apgar 7/10, com alteração para umbilical direita caracterizando uma gastrosquise (cordão à esquerda e orifício à direita), com exteriorização de bexiga, alças do intestino delgado, cólon ascendente e terço inicial do transverso. Foi recebido pela cirurgia pediátrica após ligadura do cordão umbilical, envolvido em saco plástico estéril e levado à sala cirúrgica ao lado onde realizou-se a venóclise, intubação orotraqueal e correção cirúrgica primária com fechamento circunferencial em torno do umbigo, sem intercorrências, apresentado diurese no bloco. Permaneceu na UTI por 30 dias, 2 dias entubado, 10 dias de ampicilina e gentamicina, boa aceitação do leite materno e alta após no 36º dia.
DISCUSSÃO
Para o tratamento pós-natal, uma das maiores dificuldades para o fechamento cirúrgico primário é a desproporção víscero-abdominal. Nesse sentido, o desenvolvimento do silo foi um passo decisivo no manejo da gastrosquise. No entanto, o dano intestinal ainda é responsável pela elevada morbidade e, eventualmente a mortalidade dos pacientes (GONÇALVES et al., 2013). As complicações das reintervenções realizadas tanto para o fechamento secundário como após o fechamento primário e a sepse estão associadas com altas taxas de mortalidade (CALCAGNOTTO et al., 2013). No presente caso, as alças intestinais encontravam-se viáveis, sem quaisquer danos, sendo o sigmoide preenchido por grande quantidade de mecônio, o qual foi esvaziado por malaxação, facilitando a redução das vísceras. Não se observou aumento da pressão intrabdominal, permitindo a correção primária sem o uso de silo. Um estudo sobre o manejo de gestações com gastrosquise concluiu que a indução de parto na 37ª semana de gestação esteve associada com redução da sepse e morte neonatal em comparação com o manejo expectante (CALCAGNOTTO et al., 2013). A conduta pediátrica seguiu os protocolos para sepse, utilizando antibioticoterapia recomendada e uso de betametasona dois dias anteriores à cesárea programada (para auxiliar no amadurecimento fetal), de forma que a idade gestacional (37 semanas) também atendeu aos parâmetros indicados para redução de sepse e morte neonatal. Destaca-se ainda a importância do saco plástico estéril imediatamente após o nascimento, evitando a perda de umidade e reduzindo o risco de infecção e sepse, o que corrobora o excelente prognóstico no pós-operatório, mas ainda é pouco citado na literatura.
Área
CIRURGIA PEDIÁTRICA
Instituições
Universidade Federal do Triângulo Mineiro - Minas Gerais - Brasil
Autores
Cecília Salazar Ulacia, Adriana Cartafina Perez-Bóscollo