TÍTULO

HERNIA DE AMYAND - APENDICITE AGUDA SIMULANDO HERNIA IINGUINAL ENCARCERADA

INTRODUÇÃO

A hérnia de Amyand, o encontro do apêndice cecal no interior do saco herniário da hérnia inguinal, seja ela direta ou indireta, é um achado relativamente raro no cotidiano médico-cirúrgico. O desenvolvimento de apendicite aguda, no contexto de uma Hérnia de Amyand, pode confundir o diagnóstico desta patologia com uma hérnia encarcerada ou mesmo um processo infeccioso local como abcesso ou infarto ganglionar. Além da abordagem operatória, o cirurgião pode fazer uso de exames de imagem para esclarecer, descartar ou confirmar este diagnóstico mas, na grande maioria das vezes, o paciente será submetido a intervenção cirúrgico sendo o diagnóstico de apendicite um achado do transoperatório.

RELATO DE CASO

Paciente do sexto feminino, 93 anos, hipertensa em uso regular de medicação, obesa, com passado de mastectomia por neoplasia de mama e histerectomia. Comparece ao serviço de emergência do hospital com queixa de dor em região inguinal direita com uma semana de evolução, sem febre, náuseas ou vômitos. Negou dor semelhante anteriormente ou outras queixas relacionadas a região inguinal. Ao exame físico, apresentava abaulamento da região inguinal direita com aumento da temperatura local e dor ao toque.
Solicitada tomografia computadorizada de abdome e pelve, sendo relatado a presença de volumosa hérnia inguinal direita, associada a extenso plastrão inflamatório e insinuação do apêndice ileocecal no seu interior.
Foi admitida para internação, iniciado antibioticoterapia com Ceftriaxona e Metronidazol e encaminhada, no mesmo dia, para o Centro Cirúrgico.
A paciente foi submetida a inguinotomia exploradora, sendo identificado saco herniário com grande coleção de secreção purulenta em seu interior que, após aspirado, revelou apêndice ileocecal com processo inflamatório associado a necrose e perfuração.
Foi procedida a apendicectomia e herniorrafia sem o uso de tela, sendo a paciente encaminhada para Unidade de Terapia Intensiva para recuperação.
Paciente evoluiu sem intercorrências, recebendo alta no oitavo dia de pós operatório para completar antibioticoterapia domiciliar. O histopatológico confirmou diagnóstico de apendicite aguda.

DISCUSSÃO

O achado da hérnia de Amyand é pouco frequente no cotidiano, representando menos de 1% das hérnias inguinais submetidas ao tratamento cirúrgico. O manejo correto desta patologia, com a introdução precoce de antibioticoterapia, a suspeição diagnóstica e a correta abordagem cirúrgica permite o sucesso do tratamento com menor índice de complicações. Felizmente, devido a sua topografia, a apendicite na Hérnia de Amyand é muitas vezes confundida com uma hérnia encarcerada complicada, levando, invariavelmente, ao tratamento cirúrgico imediato, interrompendo sua evolução e maiores complicações. Por outro lado, devido a caréncia de sintomas abdominais, algumas vezes o desconforto inicial na região inguinal pode ser subvalorizado pelo paciente, levando a demora da busca por auxílio médico e ao maior tempo de evolução de sua doença.